FMVZ-Botucatu é pioneira no emprego
de citologia aspirativa por agulha fina
Por Marcela Custódio

A citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) é uma adaptação da citologia aspirativa, preconizada por Papa Nicolau na metade do século XIX, e sua modificação ocorreu nos Estados Unidos na década de 60; logo, não é um procedimento novo e tem sido utilizado mundialmente por médicos e veterinários pela sua eficiência no diagnóstico de neoplasias, entre outras lesões . Estudos revelam que as médias dos resultados obtidos para a sensibilidade, especificidade e eficiência foram 84%, 97% e 92,6%, respectivamente.

As amostras citológicas são freqüentemente utilizadas pela facilidade, rapidez e segurança, além de ter baixo custo e boa tolerância do paciente à coleta. A versatilidade da CAAF e a rapidez com que as colorações podem ser realizadas proporcionam um diagnóstico rápido na clínica. Primeiramente, esta técnica só era utilizada na medicina humana, mas não na medicina veterinária.

No Brasil, foi adotada para exames veterinários, pioneiramente, no Hospital da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp (FMVZ), campus de Botucatu, pela Prof. Ass. Dra. Noeme Souza Rocha.

A professor Noeme Souza Rocha concluiu a graduação na Universidade Estadual do Maranhão, realizando, posteriormente, residência no Departamento de Clínica de Pequenos Animais, no serviço de Patologia Veterinária da FMVZ, concluindo, posteriormente, mestrado e doutorado na mesma instituição. Confira abaixo a entrevista por ela concedida ao Informativo Proex.

Antes da utilização da CAAF no Hospital Veterinário, como era feito o diagnóstico de lesões neoplásticas?

Noeme Souza Rocha - No período que antecedeu a CAAF, os diagnósticos de lesões neoplásicas eram feitos exclusivamente pelo exame histopatológico, o qual constava da remoção total ou de parte da lesão por método cirúrgico. Esse ato, cuja nomenclatura é biopsia por excisão e incisão, respectivamente, foi introduzido na linguagem médica em 1879 pelo dermatologista francês Ernest Henri Besnier. Independentemente da forma de coleta, esse material era colocado em recipiente contendo o fixador que, na grande maioria, era o universal: a formalina a 10%. Nesse meio, a amostra permanecia em média 24h. A amostra, uma vez fixada, era seccionada e desidratada, passando por concentrações progressivas de álcool e xilol. Em geral, isto se fazia em um tempo de 6h à 24h. Posteriormente, a amostra era incluída em parafina, cortada em micrótomo, desparafinizada, colocada em lâmina histológica e corada pela hematoxina-eosina (HE). Depois de tudo isso, a lâmina era levada ao microscópio de luz, onde o docente emitia um diagnóstico final.

Quando começou a ser implantada, quais foram as principais dificuldades encontradas?

NSR - Com a implantação da CAAF, aconteceu a dificuldade inerente a qualquer método novo: a resistência no que diz respeito à credibilidade do diagnóstico, bem como o lado financeiro, pois o laboratório necessitava de reagentes e equipamentos específicos para a realização da técnica. Porém, essas dificuldades foram sanadas rapidamente pelo voto de confiança dos colegas de serviços desse hospital e pelas agências de fomento. Neste último, não poderia deixar de mencionar e agradecer a Fundunesp e o prof. Hélio Langoni pelos reagentes e a citocentrífuga (FAPESP), respectivamente.

O que a levou a pensar em implantar a CAAF no Hospital Veterinário?

NSR - Isto tem uma longa história, mas tentarei resumi-la: no final da década de 80, eu prestava residência nesta instituição na área de Patologia Veterinária. Como no programa de R2 constava um estágio em outro serviço, resolvi acatar a sugestão da preceptora, que era estagiar no Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina deste Campus. Na época, num estágio de dois meses, acompanhei os professores Fernando e Cristina e tive o primeiro contato com a técnica. Foi o suficiente para perceber que ela tinha muito a ver com a veterinária, pela rapidez no diagnóstico e também pelo custo. Após o estágio, retornei com a idéia na cabeça, mas nada pude fazer, pois ainda era residente. Terminei a residência, voltei ao citado Departamento para cursar o mestrado e, ao mesmo tempo, acompanhei o laboratório de CAAF durante todo o período que permaneci por lá. Em 1994, prestei o concurso de docente para a FMVZ e vi a tão esperada hora de concretizar a idéia da implantação do exame neste Hospital Veterinário.

Quais as vantagens e desvantagens da CAAF?

NSR - A CAAF, quando comparada com o exame histológico, exibe inúmeras vantagens. Porém, para o momento, serão apresentadas as mais importantes. Menos traumatismo é produzido pela CAAF; em vista disso, há menos complicações, como hemorragia ou perfuração. Maior superfície de amostragem está disponível; este fato é particularmente importante na avaliação da disseminação de células cancerosas; neoplasias de difícil acesso podem ser melhor amostradas. A rapidez do método é uma das maiores vantagens porque seu resultado pode ser lido minutos após a coleta; é mais conveniente, pois na grande maioria dos casos, não é necessária a preparação prévia do animal e a amostragem é feita como um procedimento de consultório. Maior índice de detecção de malignidade e maior relação de custo-eficiência. Com freqüência, elimina testes, procedimentos e manobras cirúrgicas desnecessárias. As limitações são: a classificação de alguns tipos de neoplasias é, em geral, mais difícil, devido à perda do padrão do tecido e a extensão e a profundidade da invasão.

Quais as perspectivas futuras para o diagnóstico de lesão neoplásica na Medicina Veterinária?

NSR - A CAAF aplicada no diagnóstico clínico do processo neoplásico, tal como realizada hoje em dia no nosso H.V., é algo pioneiro. Neste contexto, ultimamente presenciamos uma explosão sem precedente em outros Hospitais Veterinários desse nosso imenso país. Para responder a demanda e justificar a confiança daqueles que solicitam a CAAF, os nossos horizontes são inúmeros, mas podemos citar alguns, tais como aplicar os diferentes graus de malignidade às principais neoplasias que acometem os nossos animais, a exemplo do mastocitoma, do câncer de mama e do tumor venéreo transmissível. Além disso, estamos em plena movimentação no que diz respeito ao emprego de métodos à base de biologia molecular e de mutagênese e, com isto, num futuro bem próximo, chegaremos ao diagnóstico mais correto possível.


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