Um novo olhar sobre os adolescentes
Professor e Oficial de Projetos da Unicef no Brasil, Mário Volpi,
fala da visão distorcida que a sociedade possui da adolescência
Por Abner Massarioli

Mário Volpi, professor e oficial de projetos da Unicef no BrasilOs desafios de uma nova visão sobre a adolescência e seus reflexos na educação. Este foi o principal tema trabalhado pelo professor Mário Volpi na conferência "O Desafio da Formação de Professores para a Educação dos Jovens". Oficial de Projetos da Unicef no Brasil e trabalha atualmente com 8 milhões de adolescentes de baixa renda selecionados em todo o País, Volpi veio à Araraquara para participar da Semana de Estudos "Formação de Professores na Desordem Contemporânea", organizada pelo Departamento de Didática da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (FCL), campus de Araraquara, no mês de abril.

"Se estamos diante de um ator social diferenciado (o adolescente), que educador precisamos para potencializar essas capacidades e não adormecê-las?", questiona Mário Volpi. Para ele, vão ser características dinâmicas e dialéticas que aproximarão os educadores deste novo conceito da adolescência. "Não é um conhecimento que você acumula para trabalhar com adolescentes, mas ferramentas que se adquire para poder desvendar este universo e adentra-lo sem preconceitos, limitações e repressões", completa.

Acompanhe a seguir trechos da entrevista que Mário Volpi concedeu ao Painel antes de sua palestra:

Qual a sua atuação dentro da Unicef?

Mário Volpi - A Unicef organizou suas atividades no Brasil por meio de três programas. Um programa é ligado ao desenvolvimento infantil, com políticas voltadas às crianças de 0 a 6 anos. Um outro programa é voltado à fase de escolarização, para as crianças de 7 a 14 anos. E um terceiro programa é ligado à fase da adolescência. São três grandes programas no país com políticas integradas. Eu coordeno o programa chamado de Cidadania dos Adolescentes, que busca desenvolver no Brasil políticas específicas para os adolescentes. Estamos tentando desconstruir um mito que existe sobre a adolescência no país - o mito da adolescência problema - e mostrar esta fase da vida como uma grande oportunidade de aprendizagem, socialização e desenvolvimento. A partir da desconstrução deste mito, o Estado e as políticas públicas podem começar a oferecer melhores oportunidades para os adolescentes nesta fase específica da vida.

Em relação a essa visão estigmatizada da adolescência presente na sociedade, como o senhor percebe a imagem que a escola formal tem dos adolescentes?

Volpi - Na verdade, a escola tem a mesma visão que a sociedade. Ela reproduz uma visão psicanalítica que foi traduzida na cultura do país. A adolescência é analisada pelos adultos - por olhar quase que clínico - como uma fase de explosão dos hormônios e da crise de identidade. Todas essas visões de uma ciência foram tornadas absolutas e traduzidas de maneira popular no termo "aborrecência". Quando vamos analisar a fase da adolescência, notamos que estes aspectos constituem apenas um aspecto da dimensão. Seria como se olhássemos a fase dos 30 e 40 anos como a fase da gastrite, da úlcera e da enxaqueca. Então, o que aconteceu com a escola? Ela absorveu essa visão limitada sobre os adolescentes e usou como um álibi para o seu fracasso. Não é que não estamos tendo competência para trabalhar com os adolescentes, é que eles são difíceis mesmo. Esta é a tese básica. Porém, quando vamos interagindo, observando e analisando as trajetórias de vida, percebemos que a adolescência é uma fase que possui características específicas. Mas se para todas as características que são lidas negativamente, apresentarmos um olhar mais aprofundado, podemos transformar o problema em uma oportunidade.

Essa incorporação da visão psicanalítica que a sociedade faz, e que a escola incorpora também, é verificável na formação dos professores nos meios acadêmicos?

Volpi - A adolescência é um tema muito recente. Por ser um fenômeno explicado apenas pela perspectiva do desenvolvimento humano, não há um estudo sociológico e antropológico aprofundado. O que há na adolescência é uma produção do campo da Psicologia. Esse viés reina absoluto e é reproduzido. A adolescência é um universo absolutamente desconhecido. É um universo mítico na nossa sociedade. Algumas sociedades não possuem adolescência. E algumas de nossas crianças também não. A adolescência foi uma criação da sociedade moderna do primeiro mundo. O conceito foi transferido para a nossa realidade e que precisa ser adaptado e explorado. Na formação dos professores, não está se estudando a adolescência como uma fase da vida, mas como um problema.


Leia também:
Proex promove campanha de prevenção ao câncer de pele na FE-Ilha Solteira
Proex realiza campanha de vacinação na FE-Ilha Solteira
FO-Araraquara moderniza clínicas de atendimento
Ibilce-São José do Rio Preto elege nova diretoria
FMVZ-Botucatu é pioneira no emprego de citologia aspirativa por agulha fina
Um novo olhar sobre os adolescentes
FCT-Presidente Prudente promove exposição "Índio: Exemplo de Harmonia na Sociedade e na Natureza"
FCT-Presidente Prudente mantém Programa de Monitoramento de Alunos da Escola Estadual
FC-Bauru promove simpósio sobre formação em psicologia
IB-Rio Claro promove Ciclo Wilhelm Reich
Nilmário Miranda, secretário nacional dos direitos humanos, debate prostituição infantil na FCL-Araraquara
Centro de Psicologia Aplicada da FC-Bauru e Conselho Regional de Psicologia promovem Café Cultural
Seminário da FCL-Araraquara discute globalização e economia solidária
FCA-Botucatu completa 38º aniversário
FCT-Presidente Prudente comemora 44 anos
Campus de São Vicente lança manual acadêmico
FCA-Botucatu pesquisa novos usos para o Pinus taeda
FCA-Botucatu promove II Festa da Mandioca e I Workshop sobre Tecnologias em Tuberosas Tropicais
Campus de Bauru recebe a mostra "Proclamação das Repúblicas"