Livro de docente da FCL-Araraquara
ensina uso correto da língua portuguesa
Por Abner Massarioli

Guia de uso do portuguêsAcaba de sair pela Editora da Unesp, e foi lançada na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, a obra "Guia de uso do português: confrontando regras e usos", da autoria da professora Maria Helena de Moura Neves, do departamento de Lingüística da Faculdade de Ciências e Letras de Unesp (FCL), campus de Araraquara.

Organizada a partir de um estudo exaustivo dos usos vigentes no português contemporâneo do Brasil, a obra busca, em primeiro lugar, informar exatamente como estão sendo usadas as formas da língua portuguesa. O ponto-chave é que o uso pode contrariar as restrições que a tradição vem repetindo, e o falante, particularmente aquele que usa de modo especial a linguagem nas suas atividades profissionais, terá de conhecer os dois lados da questão: o modo como os manuais normativos dizem que "deve ser" ou "não deve ser", e o modo como, realmente, "é".

Com esse conhecimento seguro - porque baseado em pesquisa de ocorrência e, quando necessário, também de freqüência - o consulente, avaliando a situação em que, no momento, produz seu enunciado, poderá decidir se o pauta pelas normas tradicionalmente determinadas, para garantir o padrão necessário naquela situação particular de uso lingüístico, ou se, às vezes com grande benefício para a eficiência comunicativa, "afrouxa" os moldes pelos quais pauta a forma daquilo que diz, escudado na freqüência de uma determinada ocorrência, ou nos tipos de texto em que ela está presente.

Profa. Maria Helena de Moura Neves - FCL-AraraquaraA obra tem como público alvo qualquer pessoa - estudante, profissional ou simples falante da língua portuguesa - que, em algum momento de desempenho lingüístico, sinta algum tipo de dificuldade na formulação de seu enunciado. A obra não pretende ser um tira-dúvidas calcado nas fórmulas normativas que vêm sendo repetidas nos diversos livros do tipo "consultório gramatical" que se encontram no mercado.

Trechos da apresentação:

Não se nega, absolutamente, o valor da norma-padrão e a necessidade de sua divulgação. Pelo contrário, essa divulgação este livro também faz, e explicitamente, pois acredita-se que é exatamente o conhecimento das regras, confrontadas com a situação real de uso, que permitirá que o usuário faça suas escolhas para melhor desempenho lingüístico, o qual, se tem de ser eficiente, então tem também de ser socialmente adequado. O que ocorre é que uma proposição de "certo" e de "errado", decidida por palavra de autoridade e perpetuada por inércia, alijada de uma reflexão que tenha base na própria linguagem, não pode ser aceita como determinadora das decisões de uso.

Desse modo, rejeita-se, nesta obra, a prescrição cega, que é estreita e insustentável, mas rejeita-se, também, o vale-tudo que considera simplistamente que a norma-padrão é invenção das classes dominantes, e, em nome da mesma lingüística que explicitou os conceitos de variação e mudança, ignora o alcance desses conceitos.

A apresentação por verbetes colocados em ordem alfabética visa a facilitar a consulta, já que o usuário não terá necessidade de, no momento da dúvida, esforçar-se para enquadrá-la em um tema gramatical ou em outro, a fim de efetuar a busca, bastando ir diretamente à palavra ou à expressão cujo emprego constitui problema.

Trecho retirado do prefácio:

"O livro que Maria Helena de Moura Neves acaba de lançar, sob o cuidadoso título de Guia de uso do português, é o primeiro trabalho que, baseado em critérios científicos, nos diz se um determinado uso está ou não de acordo com a norma da língua culta escrita. Profunda conhecedora da tradição gramatical, com suas regras, com suas prescrições, tem plena noção de todo o preceituário normativista dos nossos compêndios gramaticais. Por outro lado, conhece muito bem, por sua minuciosa pesquisa em um corpus de mais de 80 milhões de ocorrências, como estão sendo distribuídas as diferentes formas no uso vivo da língua, ou seja, aquilo que é normal. Apresenta para o falante o que determina a tradição gramatical e também as variantes consagradas pelo uso. Mostra as divergências entre o que se determina que deve ser e o que é. Utilizando-se de dados de freqüência, revela que, muitas vezes, o que é prescrito não ocorre e o que é vetado é o que, de fato, está em uso. Dessa forma, mostra o uso real das formas lingüísticas. Sabe ela que as normas lingüísticas não são externamente decididas por um conselho de sábios, que determina o que se deve e o que não se deve dizer."