Os novos rumos do planeta

Aula magna de Administração Pública na FCL-Araraquara traz reflexões sobre o Brasil e o contexto mundial
Por Abner Massarioli

Ladislau DowborO Centro Acadêmico de Administração Pública, gestão "Além da Universidade", ligado à Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (FCL), campus de Araraquara, organizou, no dia 24 de março, uma aula magna com o prof. Dr. Ladslau Dowbor. Em sua aula, Dowbor falou sobre a gestão descentralizada no contexto da Administração Pública e trouxe aos participantes reflexões sobre o Brasil e o contexto mundial.

Ladislau Dowbor nasceu na França, em 1941, filho de poloneses, que, com o final da Segunda Guerra, emigraram para o Brasil. Viveu inicialmente em Belo Horizonte e, em 1954, mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje como brasileiro naturalizado.

É formado em economia política pela Universidade de Lausanne, na Suiça. Defendeu em 1976 o título de Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, na Polônia. Atualmente é professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e da Universidade Metodista de São Paulo. Trabalha com consultoria para diversas agencias das Nações Unidas, governos e municípios. Dowbor também atua como Conselheiro na Fundação Abrinq, Instituto Polis, Transparência Brasil e Conselho da Comunidade Solidária.

Acompanhe, a seguir, a entrevista realizada pelo Painel com o professor Ladslau Dowbor.

Como a guerra entre Estados Unidos e Iraque pode alterar o dia-a-dia das pessoas?

No Brasil não muda fundamentalmente grande coisa. O George Bush mandou um recado para o mundo. Os Estados Unidos se colocando como orquestrador do planeta e acima das organizações internacionais. É preciso lembrar que o Bush enterrou os acordos de Qyoto que são fundamentais para o futuro da humanidade na área ambiental. Ele enterrou o tribunal internacional essencial para a gente criar uma governa-bilidade planetária. Está desarticulando as Nações Unidas. Os embates, ao meu ver, são de longo prazo para todo o planeta. Não acho que vá haver um fato muito significativo de impacto para o Brasil.

E como serão as mudanças no mundo?

Por enquanto ninguém sabe como vai reagir o mundo muçulmano que é um terço do planeta. Muitas pessoas estão dizendo que o Bush conseguiu unificar grande parte do planeta no antiamericanismo. Eu tenho certas dúvidas se o Bush vai terminar o mandato dele. Minha visão é que seria indispensável para o planeta ter os Estados Unidos democrático e essa nova tendência é perigosa.

Como o sr. avalia que o Brasil está inserido no cenário internacional?

O Brasil faz parte de um grupo de países de grande peso, como a Índia - que tem um bilhão de habitantes - a China, a Indonésia, a África do Sul e a Nigéria. São grandes países do terceiro mundo cuja presença internacional é extremamente limitada, já que ainda estamos no sistema montado em 1945, das Nações Unidas tradicionais. Ou seja, não temos peso nem no Conselho de Segurança da ONU, a não ser o peso que individualmente um presidente possui e que algumas pessoas têm. Mas, no geral, o mundo herdou um sistema internacional que era o de 1945. A França está representada, enfim, estão representados todos os que ganharam a segunda guerra e o reequilíbrio é absolutamente indispensável.

É possível imaginar um cenário no qual as empresas nacionais concorram em iguais condições no mercado mundial?

Na situação atual, quando você pega uma abertura muito forte do mercado no qual uma empresa internacional trabalha com juros de 1% a 2% nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão e aqui o empresário tem que pegar dinheiro a 60%, torna-se difícil. Inclusive porque, para enfrentar a abertura, precisamos reequipar essas empresas para que elas possam concorrer. Só que o custo do dinheiro para reequipar as empresas está proibitivo. Então simultaneamente você gera um problema de concorrência internacional e abre financiamento para essas empresas gerando uma situação, ao meu ver, bastante insustentável.


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