Apicultura é destaque na FMVZ-Botucatu

Por Aline Grego e Sérgio Santa Rosa

AbelhasA disciplina de Apicultura é ministrada ao curso de Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp (FMVZ), campus de Botucatu, desde 1980, sob responsabilidade da professora Sílvia Regina Cunha Funari, do Departamento de Produção e Exploração Animal da FMVZ. Mais recentemente, passou a ser oferecida nos cursos de Engenharia Florestal e Agronomia, com maior ênfase na polinização. O setor de Apicultura da FMVZ conta com dois laboratórios e dois apiários localizados na Fazenda Lageado, onde são estudadas desde a produção de abelhas rainhas até o comportamento das abelhas, passando pela análise do mel e outros produtos apícolas.

A Apicultura é um campo de estudos abrangente e, dentre as diversas linhas de pesquisa na área desenvolvidas na faculdade, estão a produção de mel, pólen, própolis, geleia real e até de veneno, que, ao contrário do que muitos imaginam, reúne algumas propriedades medicinais.

Na Unesp de Botucatu há um grupo grande trabalhando com a própolis, que é uma resina elaborada pelas abelhas a partir de substâncias que elas coletam das plantas. Na FMVZ há pesquisas em parceria com o Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Unesp (Cevap), do Instituto de Biociências e de outros setores da própria FMVZ.

Um exemplo de pesquisa envolvendo própolis é a realizada pelo doutorando Ricardo de Oliveira Orsi, que investiga a atividade biológica do produto. Ele utiliza amostras de própolis do Setor de Apicultura da FMVZ e da Bulgária, uma vez que, em função da flora local, alguns componentes químicos podem variar em concentração, ou mesmo estarem ausentes em algumas das amostras, podendo ocasionar atividades biológicas diferentes. A pesquisa de Ricardo envolve Microbiologia, e investiga o efeito da própolis frente à bactéria Salmonella sp, segundo agente mundial causador de enterocolites.

Os resultados do trabalho apontam para a redução do crescimento da bactéria em meio de cultura com o uso da própolis. Outro aspecto importante da pesquisa envolve o uso do produto combinado com antibióticos utilizados contra uma manifestação clínica da salmonelose, conhecida como febre tifóide. Segundo Ricardo, "a intenção não é abolir o uso de antibióticos, mas sim, reduzir sua concentração clínica, evitando assim o aparecimento de efeitos colaterais e bactérias resistentes, além de acrescentar um produto natural ao tratamento, que é a própolis". Por fim, a pesquisa investiga o efeito da própolis sobre resposta imunológica, mais especificamente sobre o macrófago, célula com capacidade de fagocitar bactérias, vírus ou partículas estranhas que entram no organismo. A intenção é investigar se a própolis consegue aumentar a atividade bactericida do macrófago. Em fase final, a pesquisa deve confirmar a eficiência da própolis tanto na área microbiológica quanto imunológica.

A produção de pólen e aspectos da comercialização do produto, como armazenamento e durabilidade, também são objetos de vários trabalhos acadêmicos na FMVZ. O pólen é fonte de proteínas e vitaminas e pode ser usado como suplemento alimentar para crianças ou pessoas idosas com bons resultados. Há também pesquisas iniciais utilizando o pólen na nutrição de animais, especialmente suínos. Outra linha de pesquisa, que ainda está em fase inicial, pretende utilizar o pólen como indicador biológico da contaminação ambiental. Nesse caso, a análise do pólen pode ajudar a detectar a presença de metais pesados, inseticidas ou outros agentes poluidores numa determinada região.

As pesquisas na FMVZ são realizadas com as abelhas africanizadas e européias Apis mellifera. A abelha africanizada é resultante do cruzamento das subespécies européias com a africana.

O setor de Apicultura da FMVZ também não deixa a extensão de lado. São oferecidos aos produtores e interessados no assunto diversos estágios e cursos, compostos de aulas teóricas e práticas. Orientações sobre o manejo para a produção de geleia real, mais complexa que a produção de mel, são muito procuradas pelos apicultores. A geleia real é uma substância secretada pelas abelhas operárias nutrizes e oferecida para a alimentação das larvas jovens de todas as castas, ou seja, zangões, operárias e da rainha, que é a única que continuará a receber a geleia como alimento na fase adulta.

Para a professora Sílvia Funari, os alunos que se especializam na área, além de poder seguir a carreira acadêmica ou em institutos de pesquisa, podem atuar junto aos produtores. "No campo, estão surgindo muitos novos postos de trabalho. O Brasil tem potencial para ser o maior produtor mundial de mel no futuro. Hoje há um crescimento gradativo da produção brasileira que nos faz prever que o caminho da apicultura no Brasil é fantástico".

Quando a produção do setor de Apicultura excede o necessário para as pesquisa, são comercializados, na Supervisão da Fazenda Lageado, produtos como extrato alcoólico de própolis, mel puro ou com própolis. Futuramente, o pólen também deverá ser vendido na Fazenda.

O fascinante mundo das abelhas

Toda colônia de abelhas Apis mellifera tem uma rainha, que é a fêmea fértil responsável pela postura dos ovos. Há os zangões que fazem a fecundação da rainha e, segundo alguns pesquisadores, ajudam no controle do microclima da colméia. As operárias, mais numerosas, executam todos os tipos de trabalho, da limpeza dos favos à vigilância da colméia. O mais interessante é que a função de uma abelha operária na colônia é determinada, principalmente, pelo desenvolvimento de suas glândulas ou sua idade. As mais jovens cuidam da limpeza, são as chamadas faxineiras. Decorrido um certo tempo de vida, elas se tornam produtoras de geleia real, período em que são chamadas de nutrizes. Quando deixam de produzir a geleia real, passam a secretar cera e construir os favos, nessa fase são chamadas de engenheiras ou construtoras. Então, algumas delas podem se tornar abelhas guardiãs, que têm a função de controlar a entrada de invasores na colméia. Essas atividades internas se concentram na primeira fase da vida das abelhas. Daí até o final da sua vida elas exercerão atividades fora da colméia, fazendo as coletas de água e de substâncias como o néctar e o pólen, fontes de carboidratos e proteínas para a colônia.

As abelhas também fazem o controle do microclima dentro da colméia. Em dias frios, por exemplo, elas podem reduzir a entrada de ar no ambiente.

O que difere a abelha rainha das operárias é a alimentação e o local em que se desenvolvem. As operárias recebem geleia real por três dias, enquanto são larvas, e se desenvolvem nos alvéolos hexagonais do favo, enquanto a rainha recebe a geleia pela vida toda e se desenvolve num local chamado realeira, que por ser maior possibilita o desenvolvimento completo do seu aparelho reprodutor. Adulta, a rainha atinge a maturidade sexual e faz o vôo nupcial, durante o qual é fecundada por, em média, dez zangões. Cerca de dois a quatro dias depois começa a postura dos ovos, que dura até o fim da vida da rainha.

Para manter essa rígida organização social, as abelhas se valem de um complexo sistema de comunicação utilizando sons, danças e feromônios, mas sobre esse assunto ainda cabem muitos estudos.

Contato

Profa. Silvia Funari - Depto. de Produção e Exploração Animal
Tel: (14) 6802 -7187


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