Sentimento de culpa afeta produtividade no trabalho

Pesquisa da Unesp mostra que mães com filhos pequenos e doentes sofrem crise no trabalho

IlustraçãoMães que trabalham fora apresentam, com freqüência, queda de produtividade e sofrimento psíquico em decorrência da falta de estrutura no serviço. Pesquisa realizada pela docente Cléria Maria Lobo Bueno, da Faculdade de História, Direito e Serviço Social Unesp (FHDSS), campus de Franca, constatou que as trabalhadoras de indústrias do setor calçadista de Franca, um dos maiores do País, ficam irritadiças, nervosas e deprimidas, o que provoca a diminuição no seu rendimento, quando são obrigadas a deixar o filho pequeno e doente aos cuidados de terceiros.

"A preocupação é companheira constante dessas mulheres, quer seja em relação aos filhos deixados em casa, quer seja em relação à educação deles", explica Cléria. "A situação se agrava ainda pela falta de uma prática assistencial e educacional que apóie a situação da mãe que trabalha fora", complementa.

Na sua dissertação de mestrado, a docente colheu diversos depoimentos de trabalhadoras das indústrias de artefato, curtume e calçados de Franca, entre 22 e 56 anos, a maioria com filhos. Das três indústrias visitadas, apenas uma contava com creche. Muitas delas eram obrigadas a deixar os filhos com os avós ou pagar vizinhas para cuidar deles.

Nesse contexto, as mulheres ficavam agitadas no trabalho, principalmente quando o filho ficava doente. "Preocupar-se com o filho é o gênese de todos esses sintomas, inclusive predispondo a mãe a um eventual acidente", diz a pesquisadora.

Segundo Cléria, houve depoimentos de mulheres que se machucaram durante a confecção de sapatos porque trabalhavam sob tensão. "São mulheres que pleiteiam maior participação do homem na vida doméstica, mas não abrem mão de serem as únicas responsáveis pela educação dos seus filhos", aponta.

A professora explica que a raiva, indignação e revolta das mulheres trabalhadoras vêm também do fato de ganharem até 40% menos do que os homens. "Essas mulheres não se sentem valorizadas nem como mães nem como trabalhadoras", diz. "Mas uma curiosidade da pesquisa é de que as mulheres que têm filhos faltam menos do que aquelas que não os tem. Pela dificuldade de ser admitida em outras empresas, ela adia os seus compromissos", comenta.

Essa situação gera inúmeros sofrimentos psicológicos, muitos deles responsáveis pela queda de rendimento no trabalho e por uma insatisfação com a condição de mulher. "A culpa está ligada ao fato de terem que abdicar da função materna por causa do trabalho sem obter o retorno financeiro esperado e a promoção desejada", finaliza Cléria.

Mais informações:
Profa. Cléria Bueno - tel. (16) 701-8065


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