Dicionário da FCL-Araraquara traz
contexto de utilização das palavras

IlustraçãoVocê sabe o que é chapoletar? Não? Mas cafuné, empetecar e mamata você deve conhecer. Estes são apenas alguns dos 62 mil verbetes presentes no Dicionário de Usos do Português do Brasil, do orientador do curso de pós-graduação em Lingüística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (FCL), campus de Araraquara, Francisco Borba. A obra é fruto de oito anos de pesquisa, iniciada na própria universidade.

O professor conta que o dicionário nasceu quando, junto com sua equipe de pesquisa acadêmica, notou que os dicionários produzidos no país procuravam criar um grande acervo de palavras, mas sem atentar para o seu uso. "Estes dicionários vão apenas reunindo palavras e significações, arrolando os verbetes, sem uma análise prévia do contexto em que a palavra ocorre", explica Borba.

Foi a partir desta constatação que nasceu a idéia de criar uma obra de referência para as pessoas interessadas em aprender a maneira correta de utilizar as palavras. "Assim, eu e minha equipe organizamos um banco de dados de língua escrita do país. Deste banco, selecionamos 70 milhões de ocorrências de palavras em textos de todos os tipos", conta Borba. Com o grande banco de exemplos em mãos, o professor organizou a obra, com ênfase para a linguagem escrita.

Voltado para o uso no ensino superior, a obra procura contextualizar as palavras, dando ao leitor exemplos de utilização das mesmas, na maior parte extraídas de jornais. "Nesta obra, os significados de cada palavra vêm acompanhados de uma frase onde ela é demonstrada", explica Borba.

Segundo o professor, o dicionário foi gerado para agilizar o uso escrito da língua, uma vez que o leitor encontrará qual a melhor forma de utilização da palavra. "A pessoa consulta o dicionário não só para saber o significado mas, principalmente, para saber como determinada palavra está sendo usada", diz. Além de explicar o contexto de utilização, o dicionário conta com diversas expressões regionais, como por exemplo "cabra da peste", típica da região nordeste do país e neologismos como "processador de texto", utilizado na informática.

A preocupação com a utilização do português no Brasil também foi um dos objetivos que levaram Borba a estudar a língua pátria. Segundo o professor, os brasileiros ainda têm muita dificuldade em aprender corretamente a língua escrita. "O brasileiro tem cada vez mais dificuldade em ler, porque, de maneira geral, a escolaridade é muito baixa. Na língua, todos conseguem se fazer entender, mas não na escrita. Se a pessoa não treinar, não ler bastante, acaba perdendo a habilidade de se comunicar pela escrita", afirma.

Para ele, esta é a grande barreira que os educadores encontram atualmente. "De uma maneira geral a educação do nosso país tem diversos problemas. E a educação lingüística, que depende de treino, torna-se ainda mais difícil", lamenta. "O ensino da língua escrita no Brasil tem sido o maior desafio dos educadores e ainda deixa muito a desejar", finaliza.


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