A luta pela terra

Prof. Dr. Bernardo Mançano FernandesO Prof. Dr. Bernardo Mançano Fernandes, ligado à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp (FCT), campus de Presidente Prudente, coordena o projeto Dataluta, que consiste na manutenção de um banco de dados atualizado sobre a luta pela terra no Brasil. Fernandes, em entrevista exclusiva ao Informativo Proex, fala sobre o projeto e a questão da terra no País. Confira

IP - Em que consiste este trabalho de captação (quando começou, quais os objetivos, qual a equipe envolvida, as parcerias e como ele funciona)?

BMF - O Dataluta vem sendo financiado pela Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Unesp (PROEX) desde 1998. Nosso objetivo é manter um banco de dados atualizado a respeito das ações do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Ele começou como parte do convênio existente entre a Unesp e o MST para a criação do Fundo de Documentação do MST, que está sendo implantado no Centro de Memória e Documentação da Unesp - CEDEM.

Para tanto, iniciamos uma pesquisa com o apoio das secretarias estaduais do MST em todas as regiões do País. Levantamos dados referentes às ocupações de terra, assentamentos rurais e os diversos tipos de violência sofrida pelos sem-terra. Nosso objetivo é subsidiar os pesquisadores, professores, jornalistas, alunos e demais interessados na questão agrária brasileira. É uma forma de prestar um serviço essencial, já que as fontes governamentais não oferecem este tipo de informação. Todavia, enfrentávamos muitas dificuldades, porque os membros das secretarias estaduais do MST não conseguiam enviar os formulários da pesquisa todos os meses. Desse modo, dependíamos de fontes secundárias, como a imprensa e o governo federal.

Tomamos conhecimento de um concurso para financiamento de projetos de pesquisa e extensão da Fundação Ford, denominado Políticas da Cor na Educação Brasileira, por meio do Laboratório de Políticas Públicas - LPP, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Enviamos um projeto em dezembro de 2001 e recebemos a resposta de sua aprovação em maio de 2002. Conseguimos 17 bolsas de iniciação científica e recursos para compra de materiais e equipamentos. O financiamento, para dois anos, está sendo administrado Fundação da Faculdade de Ciência e Tecnologia - FUNDACT.

As bolsas são para estudantes universitários negros. São quinze do MST e dois da Unesp. Os estudantes sem-terra são de todas as regiões brasileiras e estudam nas universidades federais e em algumas particulares. Eles pesquisam os dados por meio de formulários e enviam via internet para o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária - NERA, do Departamento de Geografia da Unesp, campus de Presidente Prudente. No NERA, os bolsistas sistematizam os dados e reenviam para todas as secretarias do MST, de modo que todos os interessados podem ter acesso às informações para os seus trabalhos. Esses dados também são importantes para a elaboração de projetos de políticas públicas.

IP - Qual a meta desse trabalho e a expectativa de resultados?

BMF - Nossa meta e expectativa são a consolidação do Dataluta. Até este ano, tínhamos dois bolsistas como apoio da PROEX. Agora, com uma equipe de 19 bolsistas ampliamos nossas atividades e vamos tentar mantê-la funcionando, pois o DATALUTA já é referência para vários pesquisadores e jornalistas do Brasil e do exterior.

IP - Nas suas atividades, como você sente a reciprocidade para com este trabalho? Como as pessoas estão reagindo ao projeto?

BMF - Há um esforço muito grande por parte de todos os envolvidos. Quando algum bolsista está em dificuldade, procuramos ajudar para que o objetivo do projeto seja atendido. Não queremos apenas a pesquisa em dia e subsidiar os trabalhos de diversos profissionais, queremos que os estudantes envolvidos dominem os procedimentos metodológicos, e que este trabalho contribua para o bom desenvolvimento de seus cursos na universidade. Todas as vezes que eu viajo para algum estado para participar de bancas de defesa de tese, ou para ministrar alguma palestra, eu marco uma reunião com o bolsista naquele estado para avaliarmos as dificuldades e as possibilidades de superação. Também tenho motivado os estudantes a apresentarem os resultados dos trabalhos em congressos de extensão e de pesquisa. Esta postura tem mantido a equipe coesa.

IP - Programas sobre a questão da terra no Brasil são sempre polêmicos. Como o senhor encara este trabalho?

BMF - Eu sou favorável a políticas diferenciais propositivas. Tenho contribuído com o MST na elaboração de convênios com diversas universidades para criação de cursos de extensão e de cursos regulares para a formação de professores das escolas de assentamentos. Essa condição é essencial para a inserção de parte dessa população na universidade e contribui para ressocializar outra grande parte, para que tenham uma educação de qualidade.


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