Simpósio Internacional de Microcirurgia
da Unesp comemora avanços em pesquisa

Por Suzana Fonseca

Prof. Dr. Fausto Viterbo -  descoberta de técnica alavancou estudos em todo o mundoO 7º International Microsurgery Symposium, realizado entre os dias 18 e 20 de outubro, no Acqua Ville Hotel, em Avaré, reuniu renomados cirurgiões plásticos de vários países. Organizado pelos docentes da Disciplina de Cirurgia Plástica, da Faculdade de Medicina da Unesp (FM), campus de Botucatu, o evento foi uma oportunidade para comemorar os avanços em pesquisas ligados à microcirurgia, como no caso da ligação de nervos periféricos, tese de doutorado do professor doutor Fausto Viterbo, e que deu origem a vários estudos nesta área.

Capa da tese de doutorado de prof. Viterbo, defendida em 11 de setembro de 1992A nova técnica em ligação de nervos periféricos, segundo o docente, tem sido objeto de pesquisas em todo o mundo. Denominada neurorrafia látero-terminal, em 1992, essa técnica foi descoberta pelo professor Viterbo, que é responsável pela Disciplina de Cirurgia Plástica, do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da FMB. "Em minha tese de doutorado, o orientador foi prof. José Carlos Souza Trindade, atual reitor da Unesp", lembra o docente.

O professor Viterbo conta que, na época, quando uma pessoa tinha um nervo periférico - ligado a um músculo - seccionado, no caso de um tumor ou ferimento qualquer, por exemplo, utilizava-se a técnica chamada neurorrafia término-terminal, que consistia em ligar o nervo danificado a um outro nervo próximo a ele. "Essa técnica, entretanto, não era perfeita, uma vez que o nervo saudável deixava de conduzir estímulos a outro músculo. Com isso, o músculo do nervo danificado voltava a ter movimentos, mas o outro perdia", ressalta.

Neurorrafia látero-terminal: fotos da tese de doutorado do prof. ViterboEm seus estudos, o cirurgião descobriu que quando se ligava o nervo prejudicado a um outro, de forma látero-terminal, isto é, no meio do nervo, o primeiro voltava a transmitir estímulos para o músculo e o outro não perdia suas funções. "Isso era contra tudo o que estava escrito nos livros, que diziam que os nervos têm três envoltórios que não deixam passar nada. Mas nós observamos que não, que quando nós encostamos um nervo no outro, há uma erosão das camadas protetivas do nervo e os axônios (fibra nervosa responsável pela transmissão de estímulos ou informações) que estão passando saem e vão penetrar também naquele outro nervo. E o mais interessante é que um não perde nada e o outro ganha", explica Viterbo.

De acordo com o professor, a técnica tem despertado grande curiosidade e estímulo à pesquisa no mundo todo, porque abre muitas possibilidades de tratamento. "Diversas lesões de nervos não tinham outros nervos perto para cederem, para serem sacrificados. Muitas vezes havia um nervo bom, mas era um nervo importante também. A partir dessa técnica qualquer nervo pode ser doador de axônios", comemora o cirurgião.

Desta forma, em lesões do plexo braquial (quando a pessoa perde os movimentos do braço), paralisias faciais, reconstrução de mama (a reenervação traz de volta a sensibilidade) e nos casos de pacientes paraplégicos a técnica vem sendo utilizada com sucesso.

Neurorrafia látero-terminal: fotos da tese de doutorado do prof. ViterboNo último caso, como o paciente passa muito tempo deitado e não tem sensibilidade, surgem ferimentos nas costas, chamadas "escaras de decúbito", ou úlceras de pressão, um problema muito sério nos paraplégicos. Prof. Viterbo conta que dois pacientes foram operados na Faculdade de Medicina. "Os dois estão ótimos e não tiveram mais úlceras", ressalta o cirurgião.

Para confirmar a importância da descoberta, o professor Viterbo destaca: "Isso vem despertando o interesse do mundo inteiro. Diversos trabalhos foram publicados, todos nos citando nas referências. Em algumas vezes, sou citado como 'Viterbo do Brasil'. Este ano, a pesquisa completa dez anos, porque foi em 92 que nós defendemos esta tese", lembra o professor.

O 7º Simpósio Internacional de Microcirurgia é dirigido a um público amplo, como médicos em geral, alunos de medicina, fisioterapêutas que trabalham com paralisia facial, com o plexo braquial, fonoaudiólogos que trabalham também nessa área, além de diversas especialidades da Medicina, como Neurologia, Ortopedia e Cirurgia Plástica.

A comissão organizadora do simpósio é composta, além de Viterbo, pelos docentes Maria Madalena Silva, Aristides Palhares e Antonio de Castro Rodrigues, todos ligados à FM.

Este ano, o evento contará com sete apresentadores de outros países, como Suécia, Eslovênia, Áustria e Estados Unidos. "Isso é uma coisa muito boa, que nos traz uma satisfação muito grande. Porque é um trabalho que está crescendo, que está tendo continuidade, com aplicações clínicas importantes", comemora Viterbo.

Mais informações - página do Prof. Dr. Fausto Viterbo - www.faustoviterbo.com.br


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