Memória fraca não é sinônimo de velhice

IlustraçãoPesquisador da UNESP prova que a boa memória depende dos estímulos que o cérebro recebe. Dá ainda dicas de como mantê-la fresca para o resto da vida.

Sempre se acreditou que a perda da memória estaria relacionada com a degeneração dos neurônios cerebrais. E que, conforme o indivíduo fosse envelhecendo, haveria uma perda gradativa dessas células nervosas, o que afetaria sua capacidade de memorização. Pesquisas recentes mostram, entretanto, que os neurônios não se degeneram em grandes quantidades com o passar dos anos.

"Apenas tornam-se inativos por falta de estímulos", afirma o neurofisiologista Avelino Leonardo da Silva, da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), câmpus de Assis, que realizou um estudo no qual ele comprova que o idoso pode ter capacidade de memória idêntica a de um jovem. Tudo depende do aprendizado, treino e experiência. Em outras palavras, dos estímulos que ele dá ao seu cérebro.

Para chegar a essa conclusão, o pesquisador aplicou testes para comparar a capacidade de memorização de jovens e de idosos. Os jovens avaliados tinham idade entre 12 e 18 anos e cursavam, respectivamente, a sexta série do primeiro grau e a terceira série do segundo grau.

A fim de evitar distorções, foram testados grupos de alunos de escolas públicas e particulares de vários níveis sócio-econômicos. Já os idosos - todos com idade acima de 55 anos - foram divididos em dois grupos: um que possuía Curso Colegial e Superior e outro constituído por pessoas que tinham no máximo a quarta série do ensino fundamental.

Capacidade de memorização - "Quando comparamos os resultados, constatamos que não havia nenhuma diferença entre o grupo de idosos com nível elevado de escolaridade e os alunos da terceira série do 2º grau", conta o pesquisador. Em contrapartida, os idosos que tinham baixa escolaridade apresentaram um desempenho similar ao dos alunos da sexta série do 1º grau.

A capacidade de memorização do grupo de jovens da terça série do 2º grau também foi 22% superior à do grupo dos alunos menores. "Já a comparação entre os idosos mostra que o grupo com maior nível de escolaridade apresentou, em média, um desempenho 30% superior em relação ao outro, o que mostra a importância do aprendizado para o desenvolvimento de habilidades cerebrais, como a memória imediata", explica o pesquisador.

Ginástica cerebral - Segundo o pesquisador, não é a quantidade de neurônios que determina a capacidade de memória, mas sim o número de conexões sinápticas e o tamanho das ramificações dendríticas dos neurônios, cujo desenvolvimento depende diretamente dos estímulos que o cérebro recebe.

"As ramificações encontradas nos neurônios podem ser comparadas a um galho de árvore, que se expande conforme os estímulos que recebe", explica, acrescentando que esses estímulos também servem para aumentar a quantidade das conexões sinápticas, que são responsáveis pela transmissão de dados entre os neurônios.

"Assim como o corpo precisa de exercícios para deixar os músculos mais fortes e ágeis, o cérebro também necessita de ginástica para estimular suas células, favorecendo desta maneira, não só a memória, mas a capacidade intelectual como um todo" explica.

Portanto, a melhor forma de estimular o cérebro, independentemente da idade, é colocar a cabeça para funcionar. Ler, resolver palavras cruzadas, jogar xadrez, decorar textos, por exemplo, são exercícios que deixam a memória mais ágil.

"Essa ginástica mental serve tanto para manter a memória em dia quanto para estimular os neurônios que estão desativados", ressalta o pesquisador, acrescentando que esses exercícios ajudam até os idosos que apresentam diminuição de memória causada por problemas no sistema circulatório, por algum tipo de disfunção neurológica ou até por doenças genéticas. Nesse caso, eles poderiam compensar a perda por novas conexões entre os neurônios.

Onde encontrar:
Prof. Avelino Leonardo da Silva - tel. (18) 322-2933
Depto. de Psicologia Experimental e do Trabalho - (18) 324-5911 - Residência


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