Exigências para a Educação do Futuro

Por Arthur Roquete de Macedo

Prof. Dr. Arthur Roquete de MacedoAs transformações sociais e políticas ocorridas nas últimas décadas, associadas ao extraordinário desenvolvimento científico e tecnológico, alteraram profundamente os valores básicos que norteiam o pensamento contemporâneo.

Esta conjuntura determinou o aparecimento de problemas, da mais diferente natureza, para os quais ainda não temos soluções.

A perplexidade é tamanha, que talvez o único ponto de consenso seja o reconhecimento de que os projetos desenvolvidos para o próximo século devam ter como base a geração e a aplicação do conhecimento.

Esta certeza torna imperativa a adoção de uma estratégia que implique no desenvolvimento de um sistema educacional moderno, baseado na necessidade de fornecer aos jovens do século XXI uma formação global, compatível com os desafios a serem enfrentados.

Todo projeto consistente para a educação no futuro deverá abranger o emprego da moderna tecnologia disponível, integrando os recursos oferecidos pela informática e pela telecomunicação. A incorporação definitiva da telemática, da robótica e da multimídia aos recursos materiais colocados à disposição dos educadores representará um avanço decisivo para o desenvolvimento da criatividade e da inteligência das nossas futuras gerações. Este avanço trará, como conseqüência, alterações profundas no ensino ministrado nas salas de aula e abrirá, por outro lado, uma nova dimensão para a educação a distância.

Aliás, esse método tem sido relegado em nosso meio a um segundo plano inexplicável, tendo em vista o potencial dessa metodologia para a educação em larga escala, para a integração nacional e para o intercâmbio com outros países.

A experiência iniciada em nosso continente, na Colômbia em 1947, pela Ação Cultural Popular e, Venezuela, e o sucesso do Programa Europace não foram suficientes para estimular o desenvolvimento no Brasil da Educação a Distância com a prioridade e a urgência requeridas. A experiência brasileira é limitada e está aquém das nossas necessidades e da competência já instalada em nosso meio.

Dentro desta perspectiva, o Brasil não pode prescindir da implantação imediata da Educação a Distância. Pelo menos três fatores relevantes sustentam esta posição: o estágio atual desse processo educativo, que alcança uma posição cada vez mais importante em países desenvolvidos ou em desenvolvimento; as dimensões continentais do nosso país; as desigualdades regionais encontradas no Brasil, quer quanto à qualidade da Instituições de Ensino, quer quanto ao número e à qualidade dos Recursos Humanos disponíveis para a missão de educar.

Se a Educação a Distância é uma necessidade imperiosa e a sua implantação em nosso país deve ser feita sem delongas, é indispensável que o seu desenvolvimento ocorra de forma consciente, criteriosa, com normas claras e precisas e levando em consideração as especificidades deste país continental.

O apoio tecnológico é necessário, mas não é suficiente para o desenvolvimento de um programa educacional a distância que prepare as futuras gerações de brasileiro para o enfrentamento das questões básicas, que têm impedido o desenvolvimento sustentado do nosso país.

É imprescindível obedecer a regulamentação existente, a qual ainda precisa ser melhor regulamentada pelo Conselho Nacional de Educação e pela Secretaria Especial de Educação a Distância (SEED), bem como elaborar o projeto de acordo com os princípios de moderna tecnologia e o estado atual de arte no campo da informática.

A legislação atual sobre Educação a Distância está fundamentada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) - Lei nº9.394 de 20 de Dezembro de 1996 e nos Decretos nº2.494 de 10 de Abril de 1998, nº2.561 de 27 de Abril de 1998 e na Portaria nº301 de 07 de Abril de 1998.

No que diz respeito as modalidades, níveis e graus de ensino, a Educação a Distância representa um enorme potencial tanto para a graduação (principalmente agregando valor e qualidade aos programas regulares de graduação e na recuperação de estudantes reprovados) como para a pós-graduação stricto e lato sensu.

Entretanto, entendemos que, inicialmente, o seu campo de atuação mais produtivo será o da educação continuada em nível de especialização, aperfeiçoamento e mestrados profissionais. A pós-graduação stricto sensu e principalmente os programas de doutoramento deverão ser implantados na forma semi-presencial, com o objetivo de preservar o vínculo acadêmico orientador-orientado.

Os meios a serem utilizados necessitam ser os mais diversificados possíveis - rádio, TV, vídeo conferência e, preferencialmente, a Internet. É preciso, ainda, que haja sempre o suporte fornecido por material impresso de qualidade.

Os programas devem ser elaborados por uma equipe multidisciplinar, composta por professores responsáveis pelo conteúdo, equipe de pedagogos com experiência em educação a distância, corpo técnico, consultores de área de Marketing e Comunicação Social , entre demais profissionais especializados.

Outro ponto fundamental é a formação de professores tutores para a educação a distância e a implantação de um sistema de avaliação abrangente e confiável.

No médio prazo, deverá ocorrer a constituição de órgãos certificadores, que serão os responsáveis pela certificação da qualidade dos programas.

Finalmente, é imprescindível a elaboração de proposta e programas em consonância com a realidade educacional brasileira e nossas características sociais, fugindo da importação pura e simples de modelos alienígenas.

Como também é imprescindível a implantação de um modelo pedagógico que forme o cidadão contemporâneo e o profissional competente, comprometidos com o seu tempo e lugar. É necessário fornecer aos nossos alunos uma educação global que, além da capacitação técnica, lhe confira uma visão humanista e ética frente à vida, a qual constitui o valor supremo para a orientação das nossas ações e decisões. Esta formação deve assegurar a faculdade de acompanhar a evolução cultural, científica e tecnológica, bem como as transformações sociais.

O referido cidadão, certamente, será capaz de conviver com a intolerância e as desigualdades, transpor obstáculos e compreender os fatos, construir o belo por não ignorar a feiura e a morte. Espera-se dele a colaboração na criação de novos paradigmas que assegurem a igualdade de oportunidades, o acesso democrático aos bens materiais e aos princípios básicos da cidadania, garantindo a dignidade humana em todos os recantos do país. Assim, estaremos educando para o futuro, para a prosperidade e para a paz, sendo a Educação a Distância um instrumento importante para a consecução destes objetivos.

Arthur Roquete de Macedo é Professor titular de Cirurgia da FM-Botucatu, Membro do Conselho Nacional de Educação, Diretor da Fundação Cesgranrio de São Paulo e ex-reitor da Unesp.


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