Pesquisa revela que é crescente o número
de adolescentes obesos na Região Sudeste

Profa. Dra. Tamara Goldberg, coordenadora da pesquisaO início do terceiro milênio marca a era da evolução tecnológica no mundo. Os avanços científicos e tecnológicos em quase todas as áreas estão tornando a vida em sociedade cada vez mais facilitada. A comunicação é em tempo real. O advento da Internet eliminou fronteiras comerciais e culturais entre os continentes. Na mesma velocidade que observamos o desaparecimento de alguns empregos, vemos surgir novos postos de trabalho. A medicina evoluiu em muitas áreas, com novos medicamentos e novas formas de tratamento.

Mas, se por um lado, a modernidade traz vários benefícios ao homem, por outro, cria problemas de saúde e de comportamento. O estresse, por exemplo, é uma doença antiga, porém tornou-se uma epidemia séria apenas nos últimos anos. O sedentarismo também é algo que vem preocupando os profissionais da saúde, já que é cada vez mais freqüente ver pessoas acomodadas em suas casas com seus controles remotos, correios eletrônicos, jogos virtuais, máquinas automáticas etc. Isso sem falar no crescente aumento do índice de violência nas grandes cidades, o que obriga as pessoas a passarem mais tempo em lugares fechados.

A obesidade é um dos problemas causados por este novo estilo de vida e os adolescentes estão sendo cada vez mais afetados. Esta é a constatação de uma pesquisa realizada pela docente Tamara Ledere Goldberg, da Faculdade de Medicina da UNESP - Campus Botucatu (FMB). Ela é autora da pesquisa Prevalência de sobrepeso e obesos em ambulatório de adolescentes: emprego de dois indicadores nutricionais, realizada no Ambulatório de Adolescentes, ligado do Departamento de Pediatria da FMB, que trata de pessoas com idades entre 10 e 20 anos incompletos, com os mais variados problemas relacionados à saúde.

"A obesidade é um doença crônica e multifatorial. Ela pode ser causada por aspectos sócio-econômicos, nutricionais, hereditários e comportamentais. Sem dúvida nenhuma, o crescimento da obesidade na adolescência está relacionado com o moderno modo de vida das pessoas. De um modo geral, as crianças, por exemplo, estão trocando a bicicleta pelo computador. As diversões são outras e as atividades, também", explica Tamara. "Além disso, não vemos regras para a alimentação dos adolescentes. Eles comem qualquer coisa em qualquer horário. Não há um controle nutricional", complementa.

A pesquisa foi realizada com a colaboração de alunos da graduação em Medicina e do professor de Estatística Paulo Curi e constituiu na avaliação de 469 prontuários de consultas no ambulatório feitas entre 1988 e 1996. Os adolescentes estudados foram divididos em dois grupos: o primeiro, com 211 jovens inscritos de 1988 a 1992, sendo 108 do sexo feminino e 103 do sexo masculino; e o segundo, com 258 adolescentes que procuraram o ambulatório no período de 1993 a 1996, sendo 151 do sexo masculino e 107, masculino. Para avaliar o estado nutricional dos pacientes, foram utilizados o Índice de Massa Corporal (IMC) e a Relação Peso-Estatura. "Na verdade, a pesquisa surgiu quando observava paralelamente um elevado índice de obesidade e sobrepeso nos adolescentes que vinham ao ambulatório por outras causas" conta Tamara.

O resultado do trabalho evidenciou que, dos 469 adolescentes avaliados, 33,68% são obesos ou têm sobrepeso. Comparando os dois períodos analisados, verificou-se um aumento da população jovem, de ambos os sexos, com problemas de obesidade. Este dado, entretanto, reflete apenas a situação da região Sudeste do Brasil, já que não existe um mapeamento rigoroso em outras regiões. "Considerando que o ambulatório de adolescentes da FMB não é voltado apenas para o acompanhamento de alterações nutricionais, mas sim um local onde o paciente é atendido de forma integral, o resultado desta pesquisa evidencia desvios nutricionais que está acometendo esta população", enfatiza Tamara. "O problema, no entanto, não os preocupa como queixa principal nas consultas e tampouco aos agentes de saúde que os encaminham ao ambulatório, o que demonstra um descuido geral", diz.

Os adolescentes com problemas de obesidade e sobrepeso, segundo Tamara, poderão apresentar sérios problemas de saúde e de relacionamento. "Essas pessoas poderão ter uma auto-estima muito baixa, problemas de adaptação com os amigos e amigas e, num médio e longo prazo, complicações orgânicas como cálculo na vesícula biliar, acidentes vasculares cerebrais e doenças coronarianas, entre outras", comenta a pesquisadora.

Tamara aponta o acompanhamento rigoroso da família como a melhor forma de se combater a obesidade em adolescentes. "A família exerce um papel fundamental na formação das crianças. É preciso haver uma orientação por parte dos familiares para, inicialmente, controlar a gordura, o carbohidrato e as calorias. Além disso, é preciso que haja estímulos para a realização de atividades físicas", afirma. "Dizem que em casa de obeso até o cachorro é obeso. Então, o cuidado começa em casa", completa.

O problema do aumento da obesidade em adolescentes não é uma característica brasileira apenas. Segundo Tamara, os Estados Unidos são os que mais sofrem com os problemas relacionados à obesidade. "Pesquisas mostram que os Estados Unidos gastam cerca de US$ 100 milhões ao ano para combater este problema, que ataca crianças, jovens e adultos", revela. "Em 1991, ao população norte-americana de obesos era de 15%. O país tinha uma meta de reduzir este dado até o ano 2000, mas hoje os obesos atingem a marca de 30% em adolescentes e 40% em adultos", finaliza.

Tabela demonstrativa da evolução dos casos

Período

Sobrepeso + Obeso

Número pesquisado

Prevalência

Sexo feminino:

1988-1992
29
108
26,85%
1993-1996
73
151
48,34%

Sexo masculino:

1988-1992
13
103
12,62%
1993-1996
43
107
40,19%

Total

158
469
33,68%

Leia também:

 


Página inicial
O Jornal
E-mail Redação
Equipe
Agenda
Edições Anteriores
Revistas Científicas