Artigo: A Rainha da Sucata

Por Edson do Carmo Inforsato

IlustraçãoVolta e meia arrumamos uma expressão para designar a nossa decadência, aliás uma decadência sem apogeu. Há algum tempo circula nos meios formais e informais de comunicação o termo "sucateamento", para expressar a derrocada da qualidade dos serviços públicos e, mais especificamente, das universidades públicas. Pela força do complexo acadêmico, reverbera por todos os canais a piora do desempenho das atividades da universidade, como se essa instituição dentre todas se constituísse numa verdadeira "rainha da sucata". Fico impressionado com a adesão que muitos de nós fazemos a estas "palavras de ordem", sem reflexões mais consistentes ou, o que é pior, sem a mínima atenção aos fatos.

Cumpri meus estudos, desde a graduação até o doutorado em duas instituições universitárias estatais: a USP e a UFSCar. Há dezoito anos pertenço aos quadros da UNESP. Quando ingressei na graduação em 1973, a USP tinha 30.000 alunos e a UFSCar 2000 alunos. O Câmpus de São Carlos da USP não tinha um décimo dos recursos que hoje tem; o câmpus da UFSCar não tinha um vigésimo dos equipamentos atuais. A USP hoje tem 60 mil alunos e a UFSCar cerca de 7000 alunos.

Quando ingressei na UNESP, em 1985, o câmpus da FCL em termos de construção e de equipamentos não compunha um terço do que compõe agora. O número de alunos era de cerca de 1500, entre graduação e de pós - graduação. Não chegamos a 3000 hoje, efetivamente.

Não conheço bem o câmpus da UNICAMP, mas sei do imenso desenvolvimento que ali teve lugar nos últimos 20 anos. A UNICAMP passou de pouco mais de 3000 alunos na década de 70 para os dez mil alunos atuais.

Acompanho de perto os subsídios direcionados ao fomento à pesquisa, ao ensino e à extensão, os três pilares definidos para a atuação da universidade estatal. É certo que o ensino fica em segundo plano e a extensão em terceiro em relação aos recursos provenientes dos organismos de fomento, diga-se a bem da verdade pela valorização absoluta que a "visão de mundo" acadêmica atribui à pesquisa. Pois bem, a evolução desses recursos foi espantosa nos últimos vinte anos e assim também foi a evolução dos programas de assistência ao estudante.

A relação professor-aluno nas universidades estatais paulistas é de um para 15 e não passa de um para 20 ou, no máximo, 25 para todo o sistema universitário estatal brasileiro. Funcionários existem na relação de 1 para 3 ou no máximo de 1 para 5 em toda essa rede de educação formal universitária.

Para fechar esse modesto relato, recorro a mais uma história real. Há mais de quinze anos um grupo de cinco pesquisadores da USP de São Carlos foram contratados pelo Ibilce-Unesp, de Rio Preto, para suprirem as disciplinas de Física dos cursos de Licenciatura. Eles eram provenientes da área de biofísica. Lá onde estavam, em São Carlos, desfrutavam do conforto dos recursos abundantes de pesquisa. Já em Rio Preto, contavam com um laboratório bem diminuto sem recurso algum para tocarem suas pesquisas e produzirem os seus "papers". Aqueciam a água em panelas improvisadas de equipamentos. Não eram ainda doutores. Revezaram-se, solidariamente, tanto no trabalho como na obtenção dos títulos. Do esforço conjunto na pesquisa nasceu um dos centros de referência em pesquisa biofísica. Hoje, possuem laboratórios equipados, um corpo docente extremamente qualificado, com pós-graduação consolidada. Aliás um membro desse grupo pioneiro, hoje é o diretor do IBILCE. Conversando com alguns desses meus amigos, hoje percebo que as relações se tornaram mais formais, mais burocráticas, para mim mais "sucateadas".

Honestamente, pelo exposto, não percebo sinais evidentes de um sucateamento das universidades estatais. Percebo sim, que elas estão mais qualificadas, mais equipadas, mas, estranhamente, "a moral da tropa" é baixa. Sinal dos tempos ou a confirmação do nosso caráter derrotista ou, ainda, a nossa macunaímica "falta de caráter"?

Edson do Carmo Inforsato é professor do Departamento de Didática da FCL-Araraquara

FCL-Assis prepara XXI Semana de História
FCF-Araraquara lança revista para divulgar produção acadêmica dos alunos
Revista Científica confere "Prêmio Master de Ciência e Tecnologia" ao IB-Rio Claro
IB-Botucatu organiza terceira edição da jornada de nutrição
IA-São Paulo e Unimarco realizam "I Fórum de Debates sobre Interdisciplinaridade"
IGCE-Rio Claro oferece curso de informática, cidadania e saúde para funcionários
Empresas-juniores do IQ-Araraquara e FCL-Araraquara alegram Dia das Crianças em escola pública do município
Curtas - notícias rápidas das Unidades Universitárias
Artigo: "A Rainha da Sucata", por Edson do Carmo Inforsato (FCL-Araraquara)
Campus de Rio Claro é destaque na Feira Educando 2003
Bauru é bicampeão dos Jogos Interunesp 2003 - Competição reune três mil alunos

Home
Proex
Busca
Expediente
Correio