Comemoração do 40º aniversário da FM-Botucatu

Por Marilza Vieira Cunha Rudge

Vista aérea da FM-BotucatuFui indicada para falar nesta festa em nome dos Diretores deste Campus. Estou muito feliz por participar da comemoração dos 40 anos do início da FCMBB como ex-aluna e como Diretora da Faculdade de Medicina de Botucatu.

Mas, quando digo isso para os mais jovens ouço: a FCMBB acabou... É, talvez, o que a maioria pensa! Por quê comemorar 40 anos se, em 1976, a FCMBB com a criação da UNESP, dividiu-se em 4 outras Unidades? Mas, meus queridos amigos, a FCMBB foi a célula mãe que originou o Campus de Botucatu, a gravidez múltipla que deu a luz quadrigêmeos, em linguagem obstétrica! E a Mãe sempre terá seus aniversários comemorados pelos filhos, por mais brilhantes e famosos que eles tenham se tornado.

A história da FCMBB confunde-se com a história da minha vida e da vida de todos os que optaram por permanecer em Botucatu como docentes e funcionários. Se uma Instituição retrata os seres humanos que a compõem, pois deles depende o estabelecimento de metas, diretrizes e objetivos, a FCMBB foi concebida para ser grande. Buscava-se a inovação no ensino com a integração das matérias básicas entre as diferentes profissões da área biológica, algo inédito na década de 60. Essa era a concepção dos primeiros professores que para cá vieram com a aprovação do Governo do Estado de São Paulo. A cidade de Botucatu lutava para a criação de uma Faculdade de Medicina, pois dispunha da área física para um Hospital. Aparentemente visões diferentes, porém esta era a realidade.

No início tínhamos um prédio e uma FCMBB criada no Diário Oficial. Transformá-la em Faculdade foi um desafio que, como uma avalanche, foi unindo professores, funcionários e alunos. O primeiro vestibular conjunto para 2 cursos, Medicina e Medicina Veterinária, foi realizado em fevereiro de 1963. Caberia aos alunos, a opção pela profissão ao final da parte básica e, a primeira turma, optou toda pela Medicina. Por isso, na realidade, comemoramos hoje os 40 anos da 1ª Turma de Medicina. A primeira aula para o curso de Medicina e Medicina Veterinária foi ministrada, em abril de 1963, pelo Prof. Dr. Nicanor Letti. Na 2ª Turma, 3 alunos optaram pelo curso de Veterinária e 4 pelo de Biologia. Na 3a. turma abriu-se o curso de agronomia.A instalação e programação das disciplinas, as contratações dos professores, a montagem dos laboratórios para aulas práticas foram feitas ano a ano, face às necessidades do currículo. O internato das duas primeiras turmas foi realizado em Botucatu, São Paulo e Santos, pois o nosso HC só tinha 20 leitos.

Prof. Dra. Marilza Rudge, diretora da FM-Botucatu  e Prof. Dr. Joel Spadaro, vice-diretor da FMEquipamentos se faziam necessários e desta luta por recursos os alunos participaram com a tão conhecida Operação Andarilho: acreditem todos, fomos a pé até São Paulo. Fizemos uma verdadeira operação de guerra, mobilizamos a imprensa e finalmente, após meses de acampamento na capital, o Governo se sensibilizou e liberou a verba pretendida. Fomos guerreiros em plena revolução de 1964.

As colações de grau e o "trote", também, em conjunto faziam que as confraternizações entre os alunos fossem muito agradáveis. As tão conhecidas "Republicas" abrigavam na cidade os alunos de vários cursos. Até o Centro Acadêmico Pirajá da Silva, criado em 1963 no Auditório da PRF-8, pela primeira turma da Medicina era o reduto das reivindicações de todos: medicina, veterinária, biologia e agronomia. A 1a. Intermed foi organizada por nós e realizada aqui em Botucatu.

Toda a área administrativa da FCMBB funcionava em conjunto: havia uma Secretaria Geral e as Sessões de Alunos, Pessoal, Biblioteca, Compras, Expediente, Protocolo e Arquivo, Obras e Oficinas, Tesouraria, Contabilidade e Finanças e diversos Setores. Deste conjunto ficaram atendendo hoje às diversas Unidades, a Biblioteca, o Biotério e a Gráfica.

A operação Rondon foi, naquela época, o grande projeto de Extensão da FCMBB com o Campus Avançado de Humaitá. Das reminiscências, lembramos ainda, que a interação entre os setores da FCMBB favoreceu o crescimento. Conviviam nos corredores do prédio central, animais, vegetais e também os pacientes. A patologia dividia sua área física e a câmara fria com a agronomia. O relacionamento inter-profissional nos levou a desenvolver áreas experimentais de pesquisa que hoje têm reconhecido valor, como a primeira pós-graduação que foi implantada em nosso Campus em Bases Gerais da Cirurgia e Cirurgia Experimental.

Nós, que ficamos em Botucatu, e os que para cá vieram construímos uma Instituição que tem procurado atingir nestes 40 anos o topo de uma montanha. Mas, para se atingir o ápice, as escaladas são infinitas.

Precisamos aprender a colocar cada pedra que proporcione a melhoria do ensino, da pesquisa, da extensão e da assistência. A pedra do crescimento profissional da Instituição mostra àqueles de vocês que viveram aqui há 40 anos e hoje olham nossas instalações que crescemos muito. É o resultado das metas traçadas, da dedicação e, principalmente do esforço para inserir a Instituição com consistência, tecnologia e progresso nos paradigmas do novo milênio. Temos claro que o aluno formado hoje irá trabalhar, pelo menos, na primeira metade deste novo século onde muita coisa nova acontecerá: novas descobertas, novos recursos, novas metas. Os antigos nos ensinaram: se não buscarmos o impossível, jamais conseguiremos o possível...

A Faculdade de Medicina têm hoje 2 cursos de graduação: medicina e Enfermagem, o HC tem 392 leitos em Botucatu e mais 380 no Hospital Estadual de Bauru. O Instituto de Biociências ministra os cursos de Ciências Biológicas, modalidades, bacharelado, licenciatura, e médica, o curso de Nutrição e de Física Médica. A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, os cursos de Veterinária e Zootecnia e, a Faculdade de Ciências Agronômicas, os cursos de Agronomia e Engenharia Florestal.

Nesta montanha de construção da FCMBB foi preciso colocar, também, as pedras de afetividade. De fato, hoje percebemos que somos muito mais interdependentes uns dos outros que em qualquer outra época, análise feita pela própria rainha mãe da Inglaterra que disse isto ao Dalai Lama. Sou de uma geração formada com o conceito de que "o meu futuro não dependia do meu vizinho", o que gerou a retórica de crescimento e desenvolvimento econômico que reforça a tendência para a competitividade e inveja. Mas, é cada vez mais claro que para que uma Instituição cresça há necessidade de um clima de afeto entre as pessoas, de trabalho conjunto, de consciência da existência do outro com suas fragilidades e fortalezas. Foi desse trabalho multifocal que a Instituição pode amadurecer e crescer. Mas o aprendizado é difícil, pois afinal... o amor entre os seres humanos é a causa das maiores felicidades e infelicidades.

Mas, para atingir o ápice da montanha é necessário colocar as pedras da transcendência para a busca da paz psicológica e espiritual. Uma vez atingida a segurança profissional e afetiva, a Instituição exige uma dimensão maior. O difícil é que no ápice quase nada pode ser ensinado, ainda que tudo possa ser aprendido. Ajudar as pessoas da Instituição a encontrar locais e momentos para atingir o topo da montanha é o que estamos procurando criar dentro da FM de Botucatu com o programa de Humanização. Nele se incluem o Templo de Oração, uma fonte na entrada da Faculdade e o plantio de uma muda de plátano (Platanus orientalis-sycamore), árvore sob cuja sombra Hipócrates (460AC) ensinava seus discípulos. Esta muda foi trazida da Ilha de Kós (Chios) na Grécia e será plantada em todas as Faculdades de Medicina do Estado de São Paulo que o desejarem, provenientes de árvore mãe que está na FMUSP.

Saibam que, participar da festa dos 40 anos da minha querida FCMBB como Diretora da FMB é uma alegria e um orgulho muito grande que quero dividir com todos vocês que, como eu, foram alunos desta Instituição. Ela é hoje o reflexo de todo o nosso entusiasmo, trabalho, realizações e sonhos. Esperamos ter correspondido às expectativas daqueles que saíram de Botucatu e deixaram conosco a responsabilidade de manter a chama do ideal da nossa Escola: torná-la maior e mais forte: a nossa FCMBB.

Agradeço a todos aqueles que se envolveram e não mediram esforços para organizar esta festa. Os funcionários das 4 unidades da AG, os 4 vice-diretores, Fernando Hossepian, nosso Assessor de Imprensa, a Cristina do GTDRH, os funcionários da DTA, da Manutenção, da Diretoria, o Irineu, o Lelo, o Dindo, o Jaime, o Pedro Cavalari e duas amigas muito especiais a Cida e a Maria Alice, ex-docentes da FCA. Contamos também com o apoio da Arex na pessoa do Carrijo. Muitos são novos e sequer entenderam o porquê da comemoração do aniversário de uma entidade, a FCMBB, que não existe mais. Obrigada pelas horas de trabalho extra.

Ao preparar esse discurso olhei o passado procurando entender o que aconteceu com a FCMBB e encontrei na Obstetrícia a explicação: a FCMBB teve gravidez múltipla, que é uma grave complicação obstétrica! Os quadrigêmeos, IB, FMVZ, FCA e FM, oriundos da mãe FCMBB nasceram com pesos diferentes, porém, nem maiores e nem menores; com objetivos e realidades diferentes, nem melhores nem piores; com crescimento e desenvolvimento diferenciados na dependência de suas diretrizes e vocações. Como irmãos lutamos de forma isolada durante anos, uns contra os outros, na tentativa de criar personalidade própria. Aprendemos agora com a maturidade que a nossa união nos torna mais fortes, mais guerreiros e voltamos a ser uma grande família nascida da mãe única: a FCMBB. Sou testemunha juntamente com os outros três diretores, Gamero, Saglieti e Vulcano e, com o apoio do nosso Reitor, de que vivemos momento de grande entrosamento.

Parabéns a todos nós que participamos da FCMBB que, como todas as famílias passou por várias etapas de lutas, derrotas e vitórias para a construção da Instituição. Obrigada aos que conseguiram nos juntar de novo: a FCMBB não acabou, não morreu, ela apenas se multiplicou e nos tornou mais fortes!

Marilza Vieira Cunha Rudge é diretora da FMB


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