Arquitetura cidadã

Projeto da FAAC-Bauru amplia qualidade de vida para moradores do município
Por Thiago Nassa

Conjunto Habitacional Nobuji Nagasawa é beneficiado pelo projeto da FAAC

É fato que os Núcleos Habitacionais desenvolvidos para atender a população de baixa renda no Brasil apresentam, de uma maneira geral, uma homogeneidade arquitetônica, em todo o território nacional, sem levar em consideração características regionais, culturais e climáticas. Foi a partir dos anos 60, com os governos militares, que os grandes conjuntos foram difundidos em todo o País. Com uma configuração morfológica de conjunto repetitivo, o espaço público é derivado de uma área residual e as pequenas alterações nas moradias, ao longo dos anos, se referem à redução das dimensões espaciais dos ambientes e, em alguns casos, a supressão de ambientes como a sala por exemplo, além de apresentarem a mesma tipologia em todos os conjuntos: a forma retangular com cobertura de duas águas.

Na cidade de Bauru, também foram construídos vários desses conjuntos e, ainda hoje, possuem a mesma configuração espacial e a mesma tipologia de edificação, com o agravante de que os ambientes das moradias foram sofrendo reduções dimensionais ao longo do tempo. "Sendo assim, os moradores destes núcleos têm a necessidade de reformar e ampliar suas casas para adapta-las às necessidades de cada família. Entretanto, essas reformas são realizadas sem nenhum critério de projeto, uma vez que as modificações são feitas por conta do próprio morador, sem orientação e acompanhamento de um profissional da área", afirma a professora Renata Cardoso Magagnin, docente do departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp (Faac), campus de Bauru.

Equipe responsável pelo projeto"Ao visitarmos estes núcleos, verificamos várias falhas de projeto, como por exemplo problemas de fluidez interna, orientação inadequada das aberturas em relação ao conforto térmico, gerando ambientes sem ventilação, insolação e iluminação, ou, em outros casos, com insolação excessiva. As reformas muitas vezes são realizadas também pela necessidade de criar uma identidade com a moradia, mas, mesmo nestes casos, o morador repete as características observadas nas reformas de seus vizinhos, justamente pela falta de repertório arquitetônico que diferencie uma tipologia da outra", complementa a Silvana Aparecida Alves, também docente da Faac.

Com o intuito de tentar minorar os problemas advindos de uma generalização nas moradias dessa população; as duas professoras coordenam o projeto "Habitação Popular e Arquitetura em Busca da Qualidade de Vida", que pretende melhorar a qualidade de vida dos moradores de um núcleo habitacional bauruense, através de orientações na realização de ampliações ou reformas nas edificações e nas áreas do entorno.

"Com este projeto, estamos proporcionando aos cidadãos moradias que ofereçam qualidade de confortoReunião do grupo de trabalho ambiental (térmico e lumínico) e espaços dimensionados conforme critérios de medidas mínimas para garantir o chamado espaço adequado às necessidades humanas", explica Renata.

Como este projeto de extensão trata-se de um trabalho direcionado para benefício de uma determinada comunidade, o local escolhido foi o Núcleo Habitacional Nobuji Nagasawa - Bauru 2000, que está recebendo intervenção nas moradias, uma vez que 80% das residências ainda não haviam sido modificadas.

O Núcleo Habitacional Nobuji Nagasawa foi entregue a população em 1999 e possui 1239 habitações. O núcleo possui boa infra-estrutura, como água, esgoto, iluminação, transporte coletivo, pavimentação asfáltica, porém não possui área de lazer, como praças, núcleo de saúde, creche e supermercado.

Atualmente, 50 famílias do núcleo estão sendo beneficiadas com o projeto de extensão da Unesp. Este número é resultado do período de cadastramento. Alguns moradores não se cadastraram porque já haviam reformado suas casas, e outros porque, apesar da divulgação que foi feita na imprensa e distribuição de cartazes e panfletos no comércio e escola do bairro, só tomaram conhecimento depois que iniciamos o desenvolvimento dos projetos. "Pretendemos reabrir a fase de cadastro para atender a demanda que estamos recebendo em nossas visitas periódicas ao núcleo", informa Silvana.

As duas professoras da FAAC são as coordenadoras e responsáveis pelo acompanhamento direto de todos os trabalhos desenvolvidos pelo grupo, do qual também fazem parte 16 alunos, tanto no desenvolvimento do Projeto Arquitetônico, quanto no acompanhamento das etapas de cadastramento dos moradores, na entrevista feita com os mesmos e levantamento das necessidades de cada família atendida, bem como na apresentação destes projetos aos moradores.

"A nossa preocupação na época da montagem do projeto era de estar trabalhando juntamente com uma comunidade de Bauru, auxiliando-a na ampliação ou reforma de sua moradia, nossa intenção é proporcionar melhor qualidade de vida para as moradias de baixa renda, pois esta população não tem acesso a profissionais da área de Arquitetura e Engenharia para assessorá-los. Então, nós duas percorremos os núcleos mais novos da cidade no ano de 2001 (época em que estávamos escrevendo o projeto) e verificamos que a maioria deles possuía uma grande descaracterização espacial, o que dificultaria nosso trabalho. Por esta razão que escolhemos o Núcleo Habitacional Nobuji Nagazawa, pois ele apresentava um menor número de reformas foi o Bauru 2000", comenta Renata.

Após a aprovação do projeto pela Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Unesp (PROEX), em abril de 2002, foi marcada uma data para dar início ao cadastro dos moradores. A entrevista para cadastro foi realizada pelos alunos envolvidos no projeto, com acompanhamento das professoras coordenadoras. O trabalho de campo no núcleo acontece aos sábados, no período das 13h as 18h e o transporte é realizado com carro (TRAFFIC) da FAAC. Foram agendadas pelo menos uma visita ao mês ao núcleo durante todo o ano.

Para a professora Silvana, este projeto é muito importante, tanto no âmbito acadêmico quanto para a comunidade de Bauru. "No âmbito acadêmico, este trabalho é importante porque congrega alunos de diferentes cursos Arquitetura e Engenharia, num trabalho prático comum, transportando-os para a realidade da vida profissional de cada um. Nosso objetivo é formar profissionais capacitados para responder e solucionar as questões da sociedade, introduzindo-os não só no mercado de trabalho, mas ampliar e aprimorar os conceitos por eles (alunos) adquiridos em sala de aula com o aprendizado em campo e transportá-los e trabalhos na comunidade", ressalta Silvana.

Além disso, este projeto permite coletar dados "in locu", através de entrevistas realizadas junto aos moradores, relativa aos aspectos arquitetônicos e construtivos da moradia, do espaço público, da configuração espacial do conjunto e da infra-estrutura urbana, bem como registro fotográfico e projetos (originais e propostos). "Todos estes dados permitirão uma reflexão sobre o método de implantação destes, isto é, uma reflexão sobre a configuração espacial dos núcleos e das unidades habitacionais; avaliando também a necessidade de alteração espacial realizada pelos moradores nas moradias originais, visto que cada um deles irá alterar sua casa conforme seus recursos econômicos", aponta a docente.

Estes dados, bem como todas estas reflexões, resultarão em artigos a serem publicados em congressos. Já estamos encaminhando resumos para a divulgação de nosso trabalho no meio científico, e estamos no aguardo das Comissões Organizadoras para o envio de artigo completo", complementa Silvana.

O desenvolvimento deste projeto de extensão, para Silvana, é importante também pelo fato se configurar como prestação de serviço. "É também uma das maneiras de divulgar os trabalhos de pesquisas realizados pelos docentes, mas também este é um dos meios mais eficientes que possibilitam a aplicação da pesquisa diretamente na comunidade, uma vez que este trabalho é voltado para gerar melhorias e benefícios que privilegiem a sociedade de uma forma geral", afirma.

Outro ponto do projeto é a busca pela conscientização da população sobre a necessidade de recorrerem sempre a profissionais da área para a elaboração de projetos de reforma e ampliação das moradias, e da necessidade de projetos urbanísticos, bem como a participação direta da comunidade na manutenção desses espaços.

Até o momento, encontra-se em desenvolvimento 18 projetos arquitetônicos no núcleo, dos quais seis estão em fase de detalhamento e quantificação de materiais construtivo,s que serão utilizados na reforma das respectivas moradias.

Estes projetos estão sendo desenvolvidos pelos 12 alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo que integram a equipe. E e a quantificação dos materiais estão sendo elaborados pelos quatro alunos do Curso de Engenharia Civil, também membros do projeto. A etapa seguinte será realizar a avaliação pós-ocupação das habitações.


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