Brasil conquista outro "Penta"

Unesp de Jaboticabal apresenta a bezerra Penta, o primeiro clone da América Latina
Por Erlon Rigobelo

Equipe responsável pela clonagemNasceu no dia 11 de julho de 2002, às 11 horas, no Hospital Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), o primeiro clone de um ser vivo adulto da América Latina: a bezerra Penta, nome dado em homenagem à conquista da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002.

A clonagem foi o resultado de um projeto de pesquisa financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e contou com o apoio de pesquisadores da UNESP de Jaboticabal e da USP de Pirassununga e de Ribeirão Preto. A pesquisa foi realizada no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da FCAV - UNESP de Jaboticabal, sob supervisão do Prof. Dr. Joaquim Mansano Garcia e com a participação direta de três alunos de doutorado por ele orientados: Walt Yamazaki, Christina Ramires Ferreira e Simone Cristina Méo.

O médico veterinário Walt Yamazaki foi o responsável pelos procedimentos para a produção do clone. Yamazaki retirou o núcleo do óvulo obtido de vaca de abatedouro (doadora de óvulo), posteriormente, removeu o núcleo de uma célula obtida da cauda da vaca Nelore D4212 (doadora de núcleo) e injetou-o no óvulo sem núcleo. Após a eletrofusão entre o núcleo e o óvulo, realizou-se a ativação, com cloreto de estrôncio, seguida pelo cultivo in vitro do embrião (Penta).

Posteriormente, o embrião foi transferido para uma vaca mestiça holandesa (vaca receptora), que serviu de "mãe de aluguel" para o clone até seu nascimento.Penta nasceu de cesariana com 42 kg, peso acima do normal para os bezerros recém-nascidos da mesma raça (35 a 38 kg) e, ao aspirar um pouco de líquido da placenta durante o parto, manifestou pneumonia asséptica, o que levou a uma interveção médica de emergência. "Devido à necessidade dessa intervenção, houve muita manipulação da bezerra, e a 'mãe de aluguel' não reconheceu Penta como a sua filha", explica Yamazaki.

A clonagem foi um sucesso e Penta está livre das complicações iniciais. O que mais preocupa a equipe de veterinários, no momento, é a atenção que ela exige em tempo integral. Por ter sido rejeitada pela "mãe", Penta, então, adquiriu vícios de um bebê manhoso.

No entanto, Penta não sabe sugar o úbere, se alimenta por mamadeira a cada duas horas e necessita ser induzida para urinar e caminhar. "Somos cerca de 30 profissionais, entre médicos veterinários, enfermeiros, pós-graduandos, residentes, estudantes e funcionários nos revezando em plantões", enfatiza Yamazaki.

Christina Ramires Ferreira, que compõe a equipe de pesquisadores, estuda a herança mitocondrial em bovinos da raça Nelore. Esse estudo será realizado na Penta e poderá auxiliar na compreensão do mecanismo de segregação mitocondrial, podendo levar ao esclarecimento de doenças degenerativas, inclusive em humanos.

A clonagem, segundo Christina, apresenta vários benefícios, tanto para o melhoramento genético animal, produção de animais transgênicos e conservação de espécies ameaçadas de extinção, quanto para a produção de alimentos e de medicamentos. "Além disso, permite a produção de órgãos para transplante e possibilita estudo e compreensão de doenças humanas e animais", finaliza a pesquisadora.


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