Assistência penal: falha estimula rebeliões

Pesquisador da FCL-Assis diz que a organização PCC não é criminosa e critica o Estado

IlustraçãoPara o psicólogo Luiz Carlos da Rocha, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, câmpus de Assis, com ampla experiência na questão psicológica e sociológica do sistema penitenciário, o alcance da organização PCC (Primeiro Comando da Capital), realmente inusitado, encontrou um "caldo fértil" nas deficiências e atraso da assistência penal, estimulando o surgimento de organizações que ocupam o vazio deixado pelo Estado.

"Não adianta ficar imaginando que o PCC é uma organização criminosa, quando a implantação de lideranças deriva basicamente de demandas não atendidas", diz o psicólogo.

Preocupado com a crença da população local de que a implantação do presídio em locais urbanizados traria uma onda de criminalidade para as cidades, já que os visitantes, por exemplo, seriam ligados ao crime, Rocha empreendeu uma pesquisa para avaliar esta relação.

Segundo ele, já possível afirmar que a implantação de um presídio em uma cidade parece não influenciar o aumento dos indicadores locais de criminalidade. A pesquisa, que contou com auxílio de alunos bolsistas da Unesp, pagos pelo CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa Científica), foi conduzida na cidade de Assis (que possui um presídio desde 1991), oeste do Estado, utilizando também indicadores estaduais.

Rocha comparou indicadores de criminalidade na região anteriores e posteriores à instalação do presídio e mapeou os visitantes que entravam no presídio, seus perfis psicológicos e suas características. "Embora os indicadores em todo o Estado mostrem tendência de aumento, não foi isso que apontou os números, não havendo diferença significativa da elevação da criminalidade pelo fato da cidade ter passado a abrigar um presídio. Mais ainda: uma cidade na mesma região e de porte aproximado, Ourinhos, que não possui presídio, tem índices de criminalidade até hoje semelhantes aos de Assis", afirma o pesquisador.

Em suma, a pesquisa mostra que a crença de que um presídio próximo aumente a criminalidade da região não corresponde aos fatos: os visitantes são, na grande maioria, mulheres e crianças, parentes dos detentos, que permanecem na cidade apenas algumas horas.

Para o pesquisador, resta analisar a situação dos familiares na atual crise - que não são reféns, como a princípio foi divulgado, mas pessoas que se tornaram escudos humanos - e que, segundo o pesquisador são "expressiva parcela da população, com ela portanto identificada".

Mais informações

Prof. Dr. Luiz Carlos da Rocha - tel. (18) 322-2933 ramal: 257
Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar - FCL-Assis


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