Professores sociais: Domingos Alves Meira
A partir desta edição, o Informativo Proex inaugura uma série de reportagens para discutir o verdadeiro papel dos profissionais que atuam no meio acadêmico

Prof. Dr. Domingos Alves MeiraNo tripé graduação, pesquisa e extensão, no qual a Unesp está calcada, há sempre um ponto em comum: as pessoas. O capital humano é, sem dúvida, a maior riqueza da universidade, e é por ele que o sucesso é obtido.

É pelas pessoas que a Unesp garante qualidade em suas atividades-fim. E é com elas que continua crescendo e superando desafios. Tecnologia humana. É isso que faz da Unesp a segunda maior universidade do País.

Entretanto, qual é o verdadeiro papel que cada um dos profissionais unespianos exerce dentro da universidade? De que forma pode contribuir para o aprimoramento do ensino, da pesquisa e da extensão? E qual é o papel que a Unesp exerce na sociedade?

São estas as questões que permeiam exatamente todas as atividades desenvolvidas na Unesp, seja numa mera palavra escrita na lousa por um docente, seja na limpeza de uma sala por uma faxineira, seja nos mais complexos estudos científicos desenvolvidos por pesquisadores.

A fim de abordar estas e outras questões relacionadas à importância do trabalho dos docentes dentro e fora da universidade, o Informativo Proex inaugura, a partir desta edição, uma série de reportagens. A cada quinze dias, o jornal eletrônico trará um docente unespiano que desenvolve atividades de grande impacto interna e externamente, com o intuito de promover uma discussão sobre o verdadeiro papel dos profissionais que atuam no setor acadêmico.

O convidado desta edição é o professor-titular da Faculdade de Medicina de Botucatu Domingos Alves Meira, atual coordenador da área das Ciências da Saúde. Meira possui mais de 30 anos de prestação de serviços à Unesp e é parte viva da história da universidade.

Ingressou, em 1967, na então Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB) e, no ano seguinte, foi eleito como primeiro diretor do Hospital das Clínicas. O próximo grande passo de Meira foi em 1970, quando assumiu a direção da antiga FCMBB.

"Este foi um momento muito especial para mim, já que assumi uma cadeira que foi utilizada, pela primeira vez, por meu pai, em 1962", revela. E, a partir daí, foram três décadas de muita dedicação e trabalho.

Atualmente, Meira está coordenando, juntamente com um grupo de profissionais da Unesp e de fora dela, a criação de um Centro de Tratamento para Pacientes com Aids em Botucatu, fazendo uso apenas de verbas externas.

"Estamos desenvolvendo um centro que atenderá gratuitamente pacientes com HIV de toda a região de Botucatu. Para tanto, conto com o apoio da iniciativa privada e de vários profissionais voluntários. Este centro será desvinculado oficialmente da Unesp, mas, como médico, não posso negar o meu papel social", conta Meira.

Um outro trabalho social do qual Meira se orgulha muito foi desenvolvido na década de 70, no município de Humaitá, na Amazônia. "Na ocasião, eu uma equipe de profissionais da saúde, que incluiu o professor Benedito Barraviera, atual Pró-Reitor de Extensão Universitária da Unesp, fomos àquela região para combater uma epidemia de malária. Naquela época, a região sofria muito com as péssimas condições de higiene e saneamento, já que estávamos vivendo a construção desorganizada da Transamazônica e a febre pela garimpo - atividades que contribuíram para o aumento da doença, já que não havia orientação e nem tratamento adequados", lembra. "Mas, ao final, foi um trabalho muito gratificante para toda a equipe. Foi um trabalho que despertou para a importância da participação em programas sociais, completa.

O grande profissional de uma universidade, segundo Meira é aquele que, através do seu trabalho, consegue agregar valor, estimular mudanças estruturais e, sobretudo, contribuir para o aprimoramento da cidadania em toda a sociedade. "Nós temos um quadro de docentes bem qualificados, mas, no entanto, precisamos criar uma nova cultura de formação de professores, a fim de estimularmos ainda mais o trabalho social-extensivo na Unesp, que ainda está longe do ideal", explica.

"Portanto, a universidade deve estar atenta a estas questões na hora de formar professores. Além disso, precisamos aumentar o número de docentes, e que sejam docentes criativos, ousados, destemidos e comprometidos com as questões sociais-acadêmicas. Para tanto, é necessária uma revisão nos concursos", diz.

Meira acredita que as atividades de extensão trazem enormes subsídios para o aprimoramento do ensino e da pesquisa universitária. "É pela extensão e pelo assistencialismo que a Unesp consegue ter uma visão abrangente da realidade da sociedade e de todas as suas demandas. E, com base nestes levantamentos, podemos definir políticas que resolvam os mais variados problemas das comunidades", aponta.

"Não podemos escantear as atividades extensivas em detrimento do ensino e da pesquisa. Elas devem caminhar juntas. Portanto, o assistencialismo deve ser também uma atividade-fim dentro da universidade", comenta. Uma das questões que Meira mais combate é a importância exagerada que se dá aos professores que possuem teses e trabalhos publicados em detrimentos de outras atividades, principalmente as de cunho social.

"É claro que publicar trabalhos é importante para a carreira acadêmica. Mas, é muito mais importante um trabalho que promove impactos positivos na vida em sociedade, como, por exemplo, prestar assistência judiciária, odontológica e médica, prestar consultoria na área agronômica para produtores, prestar atendimento veterinário etc. São todas atividades assistenciais que fazem parte do papel social de qualquer universidade", enfatiza.

Mas será que estas atividades não são estimuladas na Unesp? Para Meira, este estimulo ainda é muito pequeno. "É necessário que a Unesp tenha isso como uma de suas atividades-fim o assistencialismo. Para se ter uma idéia, nos relatórios que os docentes fazem ao final de cada ano ou de cada trabalho, não se inclui grande parte dos programas sociais desenvolvidos por eles.

Quando isso acontece, docente fica com a impressão de tempo perdido. É claro que o idealismo e a visão de cidadania continuam na cabeça de nossos professores, e, por mais que os trabalhos sociais não aparecem institucionalmente, vamos continuar desenvolvendo tais atividades. Mas precisamos de um estímulo institucional", finaliza.


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