Acidente infantil é problema de saúde pública

Pesquisadora de UNESP aponta falta de prevenção desses
acidentes, às vezes banais, e propõe a adoção de procedimento preventivo
Por Thiago Nassa

Acidente infantilAcidentes infantis, provocados por quedas, armas de fogo, afogamentos, engasgos, queimaduras, envenenamentos, sufocação e falta de segurança no transporte de crianças são um sério problema de saúde pública mundial, e podem levar à morte. Estima-se que, para cada criança que morre, outras 900 podem sofrer seqüelas de todo tipo, incluindo invalidez permanente. Como a maioria desses acidentes pode ser prevenida, a pesquisadora Sandra Regina Gimeniz-Pascoal, docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP), câmpus de Marília, tratou de investigar o assunto para o seu doutorado. Ela também propõe medidas para evitar quedas, os mais comuns.

Entre os acidentes infantis, a queda da cama ou do trocador de fraldas, por exemplo, figura entre as primeiras causas de morte acidental. Também é responsável pela maioria dos traumatismos crânio-encefálicos em crianças. Em um estudo anterior, a pesquisadora já observara, durante o atendimento pediátrico em um Centro de Saúde, mães afastarem-se de seus bebês, deixando-os em situação de perigo para quedas. Por esse motivo, a professora Sandra decidiu focar seus estudo nas quedas acidentais.

A pesquisadora examinou os números da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e verificou que, no período de 1985 a 1993, a instituição registrou 2.916 mortes infantis por acidentes no Estado de São Paulo. "Esses números, porém, são subestimados, pois as mães receiam dizer que a morte foi acidental e as estatísticas oficiais são deficientes."

Método - Em sua tese, a docente trabalhou com 58 díades (mãe e bebê), usuárias do Setor de Pediatria de um Centro de Saúde Público da Capital, divididas em dois grupos controles e dois grupos de intervenção, com base nos cuidados que dispensavam às crianças em relação à proteção para quedas. Para isso, realizou plantões diários no Setor, entrevistou as mães e registrou em vídeo os cuidados com os filhos durante a pré-consulta.

A intervenção no comportamento, proposta com vistas a prevenir quedas, foi então realizada pela pesquisadora. Os grupos foram orientados verbalmente, com o auxílio de cartazes com fotos e folhetos. Os folhetos, que elas podiam levar para casa, continham importantes informações para a prevenção de acidentes:

  • os pertences do bebê devem estar sempre ao alcance do local da troca de fraldas;
  • quando da necessidade de afastar-se da criança, levá-la sempre junto;
  • não confiar em crianças para supervisionar o bebê, porque elas não são plenamente responsáveis para realizar tal tarefa;
  • é mais seguro colocá-lo no chão, tomadas as devidas providências de higiene e conforto do que deixá-lo sozinho na cama.

Para verificar o resultado da intervenção, todas as mães foram observadas em outras visitas ao Centro de Saúde, e algumas também na residência, onde foi filmado o procedimento materno na hora do banho do bebê.

Assim, foi possível observar que durante a intervenção, quando as mães recebiam o cartaz com fotos, as mais zelosas tendiam a focalizar mais o bebê da ilustração, já as mais desatentas, se detinham na figura da mãe. Outra constatação diz respeito à percepção das mães em relação a situação de perigo, como fator importante na prevenção da queda acidental. "Esta percepção é característica de determinado grupo", diz a pesquisadora da UNESP. Exatamente entre o grupo das mães mais zelosas, 60%, foram capazes de admitir que acidentes poderiam ocorrer com seus filhos, contra 35,7% do grupo das desatentas.

Os resultados permitiram concluir que, após o trabalho de intervenção no comportamento, as mães descuidadas foram orientadas e modificaram a forma de cuidar dos bebês. "Elas tornaram-se mais cuidadosas e mantiveram a mudança nos meses em que foram reavaliadas". De acordo com a professora Sandra, esse trabalho também permitiu verificar que a adoção de medidas de prevenção contra acidentes infantis é viável. "Ele independe de mais recursos e de tempo nas instituições de saúde pública."


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