Pesquisador da UNESP alerta para
expansão da febre aftosa no continente

Por Thiago Nassa

Imagem ilustrativaO recente aparecimento de contaminação por febre aftosa em rebanhos ingleses, como em qualquer outro país livre dessa doença, é um alerta de que os vírus não respeitam fronteiras e, nos dias de hoje, podem ocorrer problemas com mais facilidade, devido ao intenso e rápido comércio de produtos de origem animal entre os países. "Portanto, para controlá-lo é imprescindível que os países exportadores de carne tenham severo controle da doença em nível continental," afirma o professor (aposentado mas ativo como voluntário) Aramis Augusto Pinto, médico veterinário, doutor em Virologia e pesquisador de febre aftosa há 35 anos, ligado ao Laboratório de Virologia e Imunologia da UNESP, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, câmpus de Jaboticabal.

"Quando o animal é abatido, ocorre uma redução natural do pH (índice de acidez) da carne, que mata o vírus porventura ali existente. Entretanto, se a carne for oriunda de bovino portador do vírus da febre aftosa, ou seja, de um animal que sofreu infecção prévia (aparente ou não), o vírus pode permanecer viável e protegido nos gânglios linfáticos e também na medula dos ossos, sem contudo, sofrer alteração na sua capacidade de infecção e posteriormente servir de fonte de infecção para outros animas. Nessas condições, a presença do vírus é difícil de ser detectada, eles sobreviverão - aliás, quanto mais frio melhor para o vírus; se a carne congelada não for desossada, manterá o vírus que porventura exista nos gânglios linfáticos e na medula óssea," explica Aramis.

Para o professor, a saída é a campanha de vacinação completa e exaustiva, até que o vírus esteja efetivamente eliminado em todo o continente - isto porque em países próximos, se ocorrer surto da doença, ela pode ser passada para animais brasileiros através do trânsito de animais ou de outras fontes de contágio e até mesmo através do próprio ar, dependendo das condições climáticas e da direção dos ventos" , alerta o pesquisador da UNESP. No Brasil, segundo ele, a campanha de vacinação tem dado ótima cobertura, devido à excelente qualidade das vacinas.

Aramis não descarta a influência de fatores políticos na questão, pois a necessidade ou não de importação de produtos de origem animal é que dita as regras do jogo estabelecidas pelos países do Primeiro Mundo. "O importador, se importa, é porque confia no controle sanitário feito pelos países exportadores. O Brasil precisa explorar bem o bom momento, já que temos a doença sob controle e contamos com rebanho de qualidade, haja visto os investimentos feitos na área, mantendo a campanha até a certeza da extinção total do vírus" , conclui Aramis.

Embora tenha sido um sucesso a debelação do foco de febre aftosa ocorrido no ano passado no Rio Grande do Sul, uma dúvida pairou sobre a sua origem, bem como a dos focos ocorridos na Argentina. Contudo, ele ressalta que os vírus ocorridos nos dois países eram de tipos bem diferentes - o da febre aftosa argentina foi do tipo A e o do Rio Grande do Sul do tipo O - e as conseqüências , é claro, preocupam tanto autoridades quanto população.


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