Homem, o melhor amigo do cão

UNESP realiza cirurgia inédita de retirada de tumor maligno em um cão Doberman
Por Thiago Nassa

Cachorro da raça DobermanO cãozinho Ringo, da raça Doberman, há 11 anos faz a alegria da família Santos Barreto e de todo o bairro do Sumaré, da charmosa cidade de Araçatuba. Ringo sempre foi tratado, por seus donos, como mais um membro da casa - muito além de um mero bicho de estimação. Ele é o xodó da família, principalmente de Renata Santos Barreto, e agrada a todos por sua amizade fiel e dedicação em zelar pela casa.

"O Ringo sempre foi um doce com a gente. É um amigo para todas as horas. Posso dizer que ele é o caçulinha da família", diz Eurides Santos Barreto, proprietária do cão. "Além de proteger nossa casa contra bandidos, ele sempre fez a festa da garotada do bairro", conta.

Entretanto, no final do ano passado, Ringo foi alvo de muitas preocupações. Os proprietários o levaram para uma análise corriqueira no Hospital Veterinário da cidade, ligado à Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp, câmpus de Jaboticabal (FO), onde foi detectada a presença de um tumor maligno na região da mandíbula O cãozinho, que sempre foi a alegria da família, tornou-se motivo de apreensão. "Ficamos muito preocupados com o Ringo. Não queríamos nem pensar em perdê-lo", confessa Eurides.

Foi então que os profissionais da UNESP puseram em prática uma técnica inovadora no Brasil para operar Ringo. Trata-se da braquiterapia intra-operatória com fíos de Irídio 192, que consiste numa cirurgia de retirada do tumor com uma sessão de radioterapia em seguida. O trabalho foi realizado pelo médico veterinário e professor-assistente da disciplina de Clínicas Cirúrgicas de Pequenos Animais da FO, Alexandre Lima de Andrade, e do professor e físico Marco Antônio Rodrigues Fernandes, da RadioAta, que terceiriza os serviços de radioterapia da Santa Casa de Araçatuba.

"Depois de duas aplicações pós-cirúrgicas de radioterapia no local, com espaço de um mês de uma para outra, o cãozinho Ringo passa bem e poderá dar o ar da graça por mais um bom tempo aos seus proprietários", explica Andrade. "Na verdade, realizei a cirurgia para extirpar o tumor do tipo Fibrassarcoma e, em seguida, contei com o apoio do físico Fernandes para as duas aplicações dos fios de Irídio 192, com o objetivo de impedir que o tumor reapareça, uma vez que é grande a reincidência do tumor em animais afetados pela doença", complementa.

Segundo Andrade, a técnica, inédita na América Latina, pode transformar a UNESP numa referência nacional no tratamento da oncologia animal. "Até então, esta prática era aplicada apenas em países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e outras nações européias", ressalta. "Nós temos outros 6 animais que foram submetidos a outras formas de radioterapia, utilizando o Cobalto-60, Ouro-198 entre outros, onde obtivemos um grande sucesso, principalmente por se tratar de tumores agressivos. Temos animais com um "folow up" (seguimento) de aproximadamente 2 anos e não observamos sinais de recidiva local do tumor", complementa.

Hoje, Eurides e toda a sua família estão vivendo um novo momento, já que o cãozinho está se recuperando bem e continua sendo o grande companheiro da casa. "O Ringo nasceu de novo. Sou muito grata ao pessoal da UNESP, que curou o Ringo de uma doença implacável", ressalta Eurides. "O que nos resta a fazer agora é dar muito amor e muito carinho para que o Ringo continue se recuperando", complementa.

Ringo, além de continuar sendo o cãozinho querido da família Santos Barreto, faz parte da história da Medicina Veterinária no Brasil, e não será lembrado apenas por seus donos, mas sim por toda a comunidade científica.

O latido que não cessa

O procedimento cirúrgico para a retirada de tumores cancerígenos em animais é rotineiro no Brasil. O inédito da cirurgia realizada em Araçatuba é a associação com a radioterapia, que faz uso de fíos de Irídio 192, uma prática já utilizada há muito tempo em humanos. A cirurgia só foi possível graças a uma parceria entre a UNESP e a Santa Casa de Araçatuba.

Após a retirada do tumor malígno no cãozinho Ringo, foram implantados nove fontes de Irídio 192, um elemento radioativo em forma de fios, que ficaram 76 horas emitindo doses calculadas de radioação. O veterinário da UNESP Alexandre Lima de Andrade, responsável pela cirurgia, explica que tal procedimento radioterápico pode ser realizado em qualquer tipo de animal. "A Faculdade de Medicina Veterinária da universidade deve realizar, ainda este ano, em um gato que tem o mesmo tipo de câncer no focinho", conta Andrade. "Além disso, a técnica foi apresentada no I Congresso Paulista da Associação de Clínica Veterinária de São Paulo, realizado em Águas de Lindóia", finaliza.


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