Aparência não é tudo!

Pesquisa conclui que escovas de dentes transparentes
retêm menos microrganismos maléficos que as opacas
Por Thiago Nassa

IlustraçãoNa corrida para vencer a concorrência, grande parte das empresas - de todos os segmentos da economia - adotou a política de inovação em produtos e serviços. O imperativo é ousar e garantir um bom relacionamento com os clientes. É com esta filosofia que observamos o surgimento de novos produtos, modificações em produtos já existentes, novas embalagens, inclusão de novos serviços ligados à um produto. Enfim, tudo com o objetivo de atrair e reter clientes. Entretanto, tal política de inovação, às vezes, não se associa à qualidade. Responda rápido: você já se sentiu estimulado a consumir um produto que possui novidades e com aparente qualidade? Não se engane: aparência não é tudo, como pregam os profissionais de marketing.

A dentista Emy Goto concluiu uma pesquisa na Faculdade de Odontologia da UNESP, câmpus de Araraquara (FO), sobre o comportamento do principal organismo que causa a cárie nos dentes, o Streptococcus Mutans, nas escovas dentais. Emy constatou que as escovas transparentes - aquelas que chamam menos a atenção do consumidor - retém menos organismo em relação à opaca.

A explicação é que a passagem de luz nas escovas transparentes interfere no mecanismo bacteriano, impedindo a retenção, por muito tempo, de microrganismos. Outro resultado da pesquisa é que as escovas em geral são vias de transmissão indireta do Streptococcus Mutans. "Por este motivo, não é aconselhável os uso comunitário de escovas de dentes. Para evitar a retenção de microrganismos, as escovas de dentes, além de transparentes, devem ser enxugadas após o uso e guardadas em locais arejados e com iluminação natural", aponta Emy. "Depois da divulgação do resultado da pesquisa, acredito que os produtores de escovas de dentes, com o tempo, vão mudar os processos produtivos e a 'cara' de seus produtos", complementa.

Intitulada de "Viabilidade de Streptococcus Mutans em escovas dentárias transparentes e opacas", a pesquisa recebeu a segunda colocação no Prêmio Colgate de Prevenção, promovido pela Colgate do Brasil, uma das maiores empresas do setor de higiene bucal do País. A solenidade de entrega foi realizada na sede da empresa, na cidade de São Paulo, no dia 24 de agosto. "O prêmio, além de ser mais um incentivo à pesquisa no Brasil, também legitima os investimentos da UNESP na área científica", conclui Emy.

Escova primata

Na pesquisa "Viabilidade de Streptococcus Mutans em escovas dentárias transparentes e opacas", a dentista Emy Goto também realizou uma revisão de literatura sobre cáries e refez o histórico das escovas de dentes. O estudo relata, por exemplo, que antes de Cristo, para a higienização dos dentes, era usada uma das formas mais primitivas de escovas, retirada de um arbusto aromático conhecido como "arrak". Outra curiosidade é que, até o final da década de 1930, antes de serem substituídas pelas cerdas de nylon que conhecemos hoje, as escovas eram feitas com pelos de porcos e de javalis.


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