BIOCIÊNCIAS
O fascínio dos vaga-lumes
Besouros são utilizados em
pesquisas científicas
Os vaga-lumes, devido
a sua emissão de luz, são um dos seres mais fascinantes
da natureza e podem ser estudados para o benefício
humano. É o que vem fazendo o biólogo molecular Vadim
Viviani, docente do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências
(IB) da UNESP, campus de Rio Claro. É importante preservar
os vaga-lumes para manter o equilíbrio do meio ambiente,
e também para investigar a sua luz e aplicá-la para
fins biotecnológicos e biomédicos, afirmou Viviani,
que também é conselheiro científico da Sociedade
Internacional de Bioluminescência e Quimioluminescência.
Viviani explica que a emissão de luz realizada pelo vaga-lume
é chamada de bioluminescência e visa a comunicação
biológica. Ela é feita por certas espécies
de insetos, algas, peixes, bactérias, fungos, celenterados,
anelídeos e artrópodes, sendo os vaga-lumes os mais
conhecidos. Existem, ao redor do mundo, aproximadamente duas mil
espécies de vaga-lume, das quais cerca de 500 podem ser encontradas
no Brasil, o país de maior diversidade destes insetos. Estima-se
que outras duas mil espécies não descritas estejam
ainda para ser descobertas em nossas matas, afirmou o biólogo.
A reação de produção de luz pelos vaga-lumes
ocorre na presença de uma enzima chamada luciferase, cuja
estrutura é o objeto da pesquisa do Grupo de Bioluminescência
e Luciferases do Laboratório de Bioquímica e Biologia
Molecular do IB, financiada pela Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Analisamos
a estrutura e a função enzimática das luciferases
com a finalidade de descobrir como essas enzimas produzem a luz
e por que resultam em diferentes cores, diz Viviani.
A luz é produzida quando a molécula de luciferina
é oxidada por oxigênio na presença da ATP (adenosina
trifosfato) e da enzima luciferase, perdendo sua energia em forma
de luz, e não de calor. Por isso a luz produzida é
chamada de luz fria, explica o docente do IB.
Os pesquisadores fazem a clonagem do material genético das
luciferases e a inserção deste material em bactérias
e mutações genéticas, sempre com o objetivo
de obter enzimas com propriedades diferentes. O grupo também
investiga diversidade e ecologia de espécies de vaga-lumes
da Mata Atlântica e outros ecossistemas brasileiros,
conta o docente do IB.
Os genes das luciferases podem ser utilizados como biomarcadores
luminosos, já que, ao serem transferidos para uma bactéria,
esta fica iluminada. Quando a bactéria adquire luz,
é possível acompanhar a sua progressão dentro
do organismo, explica Viviani. Esse procedimento já
é utilizado para testar o funcionamento de medicamentos,
para detectar se há contaminação bacteriana
em alimentos e para mostrar a evolução de células
cancerígenas em modelos animais, visando encontrar novas
terapias para o ser humano, afirma.
Apesar de sua importância para o equilíbrio ecológico
e para estudos na área de biotecnologia e biomedicina, os
vaga-lumes estão desaparecendo. As principais causas são
a poluição, o desmatamento e o aumento da presença
de luzes artificiais em áreas onde, antes, os vaga-lumes
se localizavam. O vaga-lume utiliza a própria luz para
encontrar seu parceiro sexual. Quando há um aumento das luzes
artificiais, ele não consegue enxergar a luz do sexo oposto
e não consegue se reproduzir. A continuidade da espécie
fica, então, comprometida, conclui.
Emissores
de luz
Os vaga-lumes são
besouros e podem ser classificados em três famílias:
os lampirídeos, ou pisca-pisca, que têm estágio
larval de cerca de um ano, no qual se alimentam de caramujos, e fase
adulta, que dura apenas um mês; os elaterídeos, conhecidos
como besouros tec-tec, cuja larva, que se alimenta de insetos, dura
até dois anos, e o adulto até dois meses; e os fengodídeos
ou larvas trenzinho, que são os vaga-lumes mais raros. Estes
últimos, encontrados apenas na América do Sul, além
de produzirem luz verde-amarelada por fileiras de lanternas ao longo
do corpo, são os únicos que produzem luz vermelha, localizada
na cabeça. A larva, que se alimenta de piolhos-de-cobra, dura
dois anos e o adulto, em média, uma semana. Estes resultados
correspondem aos insetos criados em laboratório, esclarece
Vadim Viviani, do Instituto de Biociências (IB) da UNESP, campus
de Rio Claro.
As famílias de vaga-lumes podem utilizar sua luz para diversas
funções. Todas a emitem, principalmente, para atrair
parceiros sexuais. O trenzinho e o besouro tec-tec a utilizam também
para assustar predadores emitindo um sinal improvisado
e as larvas do último, emitindo luz contínua, ainda
podem usá-la para atrair uma presa. As larvas de algumas
espécies de besouros tec-tec infestam cupinzeiros da região
central do Brasil, os quais ficam repletos de centenas de pontos luminosos,
dando a aparência de prédios iluminados durante a noite,
comenta o docente do IB. De um modo geral, as cores das luzes dos
vaga-lumes variam do verde-amarelado ao vermelho. Apenas poucas
espécies de trenzinho são capazes de produzir luz vermelha
e as larvas de alguns mosquitos, encontrados em regiões temperadas,
produzem luz azul, conclui Viviani.
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