Recebido em: 05.04.2004

Aceito para publicação: 05.04.2004

Publicado on line: 17.06.2004

Rev. Ciênc. Ext.

v.1, n.1, p.11-13, 2004.

Entrevista - ISSN 1679-4605.

 

 

PARADIGMAS DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

 

Barraviera, B.1

 

1 Pró-Reitor de Extensão Universitária da UNESP

 

 

Revista: Como pode se definir a extensão universitária no contexto atual, e de um mundo globalizado?

 

BB: A Extensão universitária deve ser definida como a mola propulsora da Universidade, especialmente no mundo globalizado, pois ela tem um compromisso sério com a sociedade. O Plano Nacional de Extensão Universitária a define como “o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade ...”  Diria ainda que a extensão reafirma o compromisso social da universidade promovendo ações de inserção por meio de programas e projetos, de acordo com as demandas da sociedade. Deve ser entendida ainda, como o ir e vir de docentes, alunos, servidores e pessoas da comunidade. Estes buscam a solução de problemas da sociedade em todas as áreas do conhecimento.

 

Revista: Como pode se ver a extensão universitária quanto a sua interação com a sociedade?

 

BB: A extensão é a porta de entrada da comunidade na universidade, na procura  dos seus serviços, na busca de apoio e na resolução  de problemas. Em algumas áreas esta relação é muito mais estreita, entretanto o envolvimento com a comunidade é nítido e muito forte, em todas as áreas.

 

Revista: As atividades de extensão devem envolver os alunos da Universidade em seus projetos?

 

BB: Assim como a Universidade é regida por um tripé a extensão também o é. Desta forma o tripé da Extensão é o seguinte: Professor, Aluno e Comunidade. Sem estes não existe extensão universitária. Portanto, a participação do aluno é imperativa. Se a relação ocorrer apenas entre o docente e a comunidade poderemos denominar isto de assistência, prestação de serviço, etc., em que pese estas duas últimas, desde que tenham a participação do aluno, sejam formas de extensão universitária. Por definição, o aluno deve estar sempre presente numa atividade extensionista.

 

Revista: De acordo com o estabelecido no Fórum de Pró-Reitores de Extensão Universitária, foram criadas áreas temáticas para o agrupamento de projetos. Como se vê estas áreas na UNESP, levando-se em consideração a complexidade de áreas de abrangência, dos cursos ministrados?

 

BB: A UNESP é uma das poucas Universidades brasileiras que oferece cursos praticamente em todas as áreas do conhecimento científico. Assim, as áreas de Humanidades e Exatas são grandes, extremamente importantes e muito complexas. Por outro lado, a área das Biológicas além de grande e abrangente é por sua própria natureza muito diversificada. Desta forma, as áreas temáticas criadas pelo Fórum (Comunicação, Cultura, Direitos Humanos, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Trabalho e Tecnologia) apesar de amplas não conseguem contemplar todas as áreas que a nossa Universidade oferece. Assim, foi necessário, num primeiro momento, criar-se a área de Agrárias e Veterinárias para podermos atender esta importante área do conhecimento científico. Por outro lado, a área de Arquitetura carece até o momento de opções dentro da proposta do Fórum. Hoje, passados três anos, se me perguntarem quais novas áreas temáticas deveriam ser criadas, responderia pelo menos duas: Campo e Cidade. Acredito que estas 10 áreas temáticas (as oito do Fórum), mais Campo e Cidade poderiam contemplar toda a gama de opções da Extensão Universitária brasileira. A área Campo abrangeria toda parte das Agrárias e Veterinárias, além dos problemas sociais, educacionais e de saúde das populações lá estabelecidas. A área temática Cidade abrangeria todas as áreas de Engenharia, Arquitetura, problemas sociais, educacionais e de saúde destas populações. Evidentemente estas duas novas áreas fariam importante interface com outras áreas temáticas já definidas tais como o Meio ambiente, Cultura, Comunicação, etc. Isto não inviabiliza a idéia, apenas amplia e da a oportunidade de termos projetos com áreas temáticas diversificadas.

 

Revista: Como esta sendo a experiência como Pró-Reitor de Extensão Universitária?

 

BB: Uma experiência ímpar. Infelizmente a maioria do nosso corpo docente desconhece o que seja a extensão universitária. Acredito hoje que todo pós-graduando antes de defender a sua tese de doutorado deveria freqüentar um Curso Básico de Gestão. Isto porque este indivíduo, caso venha tornar-se professor universitário, corre o risco de poder vir a ser um Chefe de Departamento ou até mesmo Diretor de uma Unidade Universitária. Assim, este curso deveria ser abrangente e discutir pormenorizadamente o que seja o tripé da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. Neste momento, o futuro docente estaria se preparando para exercer com competência sua carreira de gestão universitária. Evitaríamos assim os desvios de conceito e de valores que encontramos todos os momentos na Academia. No caso do concurso para Professor Titular o pretendente deveria fazer um Curso Avançado de Gestão Universitária. Isto porque este indivíduo poderá vir a ser Reitor de uma Universidade. Desta forma, estaríamos preparando de fato os nossos futuros administradores com a competência almejada pela comunidade universitária. Só assim teríamos docentes competentes para preparar os nossos alunos para o exercício da cidadania plena.

 

Revista: Qual a participação da Comunidade Unespiana, quanto as ações e projetos de extensão universitária?

 

BB: A UNESP é a mais extensionista das três Universidades estaduais paulistas. O nosso corpo docente está engajado na idéia e responde com rapidez e competência. A extensão na UNESP é muito grande, o que falta é a documentação. Esta gestão iniciou a documentação da nossa extensão. Muita coisa ainda necessita ser documentada. Este processo de montagem de Banco de Dados precisa continuar durante muitos anos ainda. Nós iniciamos um processo de estimulação à extensão com uma resposta da comunidade acima do esperado. Infelizmente devido a carência de recursos destinados a esta área acabamos por frustrar muitos colegas. A saída para o crescimento sustentado da extensão universitária é a criação de uma Agência de Fomento dedicada exclusivamente aos programas e projetos de extensão. Este sonho ainda não aconteceu, em que pese a luta desencadeada por nós, pelos nossos docentes e pelos demais Pró-Reitores de Extensão das Universidades públicas, comunitárias e particulares do Estado de São Paulo. Por outro lado, um processo de valorização da extensão na Academia precisa ser iniciado. Precisamos deixar de sentir ao final da jornada APENAS a sensação do dever cumprido. As ações extensionistas precisam ser valorizadas pela academia. É difícil transformar as ações em valores matemáticos, embora isto precisa ser iniciado. Precisamos saber quanto vale educar um adulto, quanto vale tirar a dor de um animal doente, quanto vale ajustar um indivíduo com desvio comportamental, quanto vale ensinar inglês para um idoso, etc.

 

Revista: Qual a sua perspectiva com relação à Revista de Extensão Universitária “Ciência em Extensão”

 

BB: Fazer revista é PAIXÃO. O professor Langoni foi escolhido para ser nosso Editor-chefe porque ele vive a Universidade com intensa paixão. Uma revista científica é a mesma coisa. São vários filhos que nascerão um a um sem fim. No momento que você fecha o primeiro número, o segundo já deverá estar em andamento e assim por diante. O verdadeiro Editor-chefe precisa dormir e acordar pensando nela (revista); além de pensar no futuro com pelo menos dois anos de antecedência. Quanto à Revista Ciência em Extensão, esta era uma velha aspiração da nossa comunidade acadêmica. Acredito, pelo número de trabalhos já submetidos, que esta revista será um sucesso. Ela já vai começar pelo caminho certo, ou seja, pela mídia mais barata que existe atualmente. Dessa forma, não corre o risco de interrupção por falta de recursos financeiros. Além disso, a Internet dá às publicações científicas, velocidade, visibilidade e competitividade. Acredito que daqui a 10 anos dirão – esta realmente foi uma iniciativa vencedora!

 

Endereço para correspondência: Benedito Barraviera, Caixa Postal 576, CEP 18618-000, Botucatu SP.