National Geografic convida docente do
IB-Botucatu para orientar documentário sobre morcegos

MorcegoHistórias como a do Conde Drácula, que se alimentava do sangue de suas vítimas na Transilvânia, fizeram com que os morcegos hematófagos, também conhecidos como vampiros, passassem a ser temidos por serem associados ao personagem, consagrado pelo escritor inglês Bram Stocker, em 1897. Esses animais, no entanto, são importantes para o ecossistema e dificilmente interferem na vida do homem.

É justamente sobre os raros contatos deles com os seres humanos que trata o documentário Spine Chillers: vampire bats, realizado pela produtora inglesa Granadamedia e exibido, nos EUA, nos dias 27 de fevereiro e 1º de março últimos, pela National Geographic Channel. O programa teve como um de seus assessores científicos o biólogo Wilson Uieda, do Instituto de Biociências (IB) da UNESP, campus de Botucatu. "As pessoas matam morcegos sem se preocupar com a sua importância para o ecossistema", diz Uieda.

Especialista em morcegos, Uieda estuda os mamíferos voadores há 20 anos e, juntamente com a bióloga Cláudia Coen, da Cornell University, de Nova York, prestou, de agosto a setembro de 2002, assessoria científica para o documentário. "O objetivo foi mostrar a importância dos morcegos hematófagos para a natureza, mudando a imagem negativa que se tem deles", diz o docente do Departamento de Zoologia do IB.

As filmagens foram realizadas em sua maior parte no Brasil, sendo 80% no Estado de São Paulo, nas cidades de Botucatu, Bernardino de Campos, Espírito Santo do Pinhal, Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim, SalesópoMorcegolis e São Paulo, e o restante, na região Norte do País, a partir de pesquisas do docente financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Uieda, qualificado no documentário como o maior especialista em morcegos hematófagos de todo o continente americano, salienta que o seu desafio pessoal é mudar aquilo que as pessoas pensam sobre os vampiros. Ele informa que existem, em todo o mundo, ao redor de 1.200 espécies de morcegos, sendo que no Brasil podem ser encontradas cerca de 150. Entre todas as espécies, aproximadamente 70% são insetívoras, ou seja, alimentam-se de insetos, 20% são frugívoras e nectarívoras, que se alimentam, respectivamente, de frutas e néctar de flores, e apenas 10% são carnívoras, piscívoras ou hematófagas. "Há três espécies hematófagas, duas se alimentam do sangue de aves e apenas uma - a Demodus rotundus -, do sangue de mamíferos, tais como bois, cavalos, porcos, cachorros e até mesmo do homem", conta.

O relevante papel dos morcegos para o ecossistema pode ser constatado com os morcegos frugívoros e nectarívoros, importantes pela manutenção das florestas e pelo reflorestamento de áreas desmatadas, fazendo a polinização e a dispersão de sementes. "Os insetívoros são responsáveis pelo controle da população de insetos como mosquitos, besouros, gafanhotos e mariposas, desempenhando função importante no controle de algumas pragas agrícolas", explica Uieda.

No Estado de São Paulo, as ocorrências de ataques de morcegos hematófagos a seres humanos são muito raras. Já na região amazônica, elas sãMorcegoo mais intensas e, por isso, recomenda-se o uso de mosquiteiros nas redes, a colocação dos animais em locais fechados ou protegidos com rede ou madeira e a manutenção de uma luz de lamparina sempre acesa. Em caso de ataque, a vítima deve lavar o local da mordida com água e sabão e procurar atendimento médico. "Em lugares onde não há criação de animais, os morcegos podem atacar pessoas para se alimentar. Neste caso, deve-se melhorar a segurança dos lares, mantendo as portas e as janelas das casas fechadas durante a noite", diz o docente do IB.

Os vampiros são temidos não só pelos ferimentos que podem ocasionar, mas também pela possibilidade de transmissão da raiva, doença transmitida por morcegos contaminados com o vírus. "A única maneira de combater esse mal é a prevenção. Ele não tem cura, portanto, os criadores devem vacinar seus animais, além de solicitar ao serviço público o controle da população do morcego hematófago", recomenda Uieda.