Detetive de farmácia

Pesquisadores da Unesp criam kits para detectar remédios falsos
Por Thiago Nassa

RemédiosNovalgina, Anador, Magnopirol, Buscopan, Conmel, Dorflex e Neosaldina. Quem não conhece pelo menos um desses remédios, dos mais utilizados pelos brasileiros? Exatamente por causa da popularidade, eles são alvo fácil de fraudadores que despejam no mercado lotes desses remédios adulterados.

Dois pesquisadores do Instituto de Química (IQ), do câmpus da UNESP de Araraquara desenvolveram um kit simples, de aplicação rápida, baixo custo e eficiente, para detectar falsificação em medicamentos que têm como princípio ativo a dipirona, analgésico e antipirético presente naqueles produtos. Segundo os especialistas, professores Leonardo Pezza e Helena Redigolo Pezza, a falsificação é ausência completa do princípio ativo, substância responsável pelo efeito terapêutico dos medicamentos.

O kit é formado por um tubo de ensaio pequeno e dois frascos contendo os reagentes necessários para a realização do teste, que pode ser feito por qualquer pessoa e em qualquer lugar. Basta macerar o comprimido (ou adicionar algumas gotas no caso de medicamentos líquidos), colocar uma pequena quantidade num pequeno tubo de ensaio e acrescentar os dois reagentes e água. Se o produto resultante tiver uma cor que varia do violeta ao azul intenso, o medicamento é verdadeiro. Caso contrário se trata de um remédio falsificado. "É um teste muito simples, sem sofisticação, à mão de pessoas comuns de qualquer parte do País", comenta a professora Helena.

Infecções

Ainda na linha Sherlock Holmes, os dois cientistas da UNESP criaram um kit semelhante, desta vez para detectar falsificação de remédios que têm como princípio ativo a hexamina, também conhecido como urotropina, usado para tratamento de infecções urinárias. Como a presença de corantes em medicamentos com hexamina dificulta os testes baseados em reações coloridas, eliminam-se os corantes utilizando apenas uma seringa descartável com algodão, que funciona como um filtro retentor. Os corantes são separados da hexamina, que é incolor.

Os dois kits são baratos. "Um kit para 100 análises de dipirona custa em torno de R$ 6 e para 100 testes de hexamina, cerca de R$ 8", diz Pezza. Os cientistas do IQ estão desenvolvendo também novas metodologias de análise para detectar fraudes em medicamentos cujos princípios ativos são diclofenaco de sódio, ibuprofeno e ácido mefenâmico, todos anti-inflamatórios.

No projeto, estão incluídos também medicamentos ou preparações farmacêuticas controladas, tais como os derivados de anfetaminas, empregados como estimulantes e controladores da obesidade, que, usados indevidamente, podem causar problemas cardiovasculares e neuroendócrinos.

A fraude em medicamentos despertou o interesse dos pesquisadores pela grande onda de falsificações e adulterações no setor, principalmente a partir de 1998, quando certas marcas de anticoncepcionais e medicamentos contra o câncer de próstata foram colocados no mercado com os princípios ativos totalmente substituídos por farinha, levando, respectivamente, a nascimentos indesejáveis e mortes prematuras. O mesmo problema ocorreu com antibióticos, analgésicos e outros medicamentos que não apresentavam qualquer ação terapêutica. No site da Vigilância Sanitária existe uma lista de medicamentos com irregularidades, entre os quais vários deles contendo a dipirona como princípio ativo.

Essa linha de pesquisa sobre medicamentos conta com a colaboração de Cristo Bladimiros Melios, também professor do IQ, e de alunos de pós-graduação e de iniciação científica. Pezza e Helena têm suas pesquisas financiadas pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pela Fundunesp (Fundação para o Desenvolvimento da UNESP).


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