Pública, mas paga

Políticos influentes propõem a cobrança de
mensalidades de quem pode pagar nas instituições públicas
Por José Olívio Casadei Junior

José Olívio Casadei Junior - jornalista especializado em EducaçãoCarteira gorda - O ex-ministro da Justiça Jarbas Passarinho tem uma idéia muito parecida com a de Ricardo Paes de Barros, diretor de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Ambos querem que o governo passe a cobrar mensalidades dos alunos nas universidades públicas. Mas atenção: não é qualquer aluno, apenas aquele que faz parte do topo da pirâmide - os mais ricos. A proposta é uma alternativa para a falta de recursos para expandir a quantidade de vagas no ensino superior de forma a dar conta do recado - o recorde de alunos menos favorecidos que estão se formando no ensino médio.

Nenhuma das duas propostas visa privatizar a universidade pública. Ambos os especialistas estão propondo distribuir melhor a renda. É sabido, de cor e salteado, como funciona o círculo vicioso no ensino superior público. Ricos e pobres pagam impostos que custeiam as universidades públicas. Mas os ricos estudam em escolas particulares e em cursos preparatórios, enquanto os pobres estudam à noite em escolas públicas. O vestibular, no fim, segue à risca a teoria de Darwin: vencem os mais fortes.

Boletim farto - Jarbas Passarinho sugeriu a cobrança, no imposto de renda, de uma alíquota extra das famílias mais endinheiradas cujos filhos estudam em instituições públicas. Aos pobres, as batatas - no caso, uma vaga gratuita, sem alíquota nenhuma. A proposta de Paes de Barros segue a mesma lógica. Quando um aluno for matricular-se, teria de fornecer o CPF dos pais e dele próprio para que o governo possa saber qual é o perfil da renda familiar do estudante. No fim do ano, a conta seria acertada com a turma do andar de cima.

É importante frisar que nenhuma das medidas pretende instaurar a cobrança de mensalidade de forma linear e burra. Somente os alunos do topo da pirâmide social arcariam com uma taxa a mais no imposto de renda. Assim, evita-se a instauração de sistemas de cotas, o que nada mais é do que o famoso jeitinho brasileiro de resolver os problemas. Em vez de melhorar a qualidade da escola pública ou abrir mais vagas nas universidades mantidas pelo governo, coloca-se os alunos menos preparados e mais pobres nas faculdades públicas pela porta dos fundos. Todos têm direito de cursar e entra quem tiver melhor boletim. Mas quem tiver a carteira mais gorda terá de desembolsar algum dinheiro para ajudar a expandir o sistema.

José Olívio Casadei Junior é jornalista especializado em Educação
e Gerente de Conteúdo do site Super U (www.super-u.com.br)


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