Pesquisa estuda empresas brasileiras instaladas na Bolívia

Professor da Unesp entrevista Carlos Mesa Gisbert, ex-presidente do país latino

12/08/2013, 00:10 por: Assessoria de Comunicação e Imprensa

Renato Dias Baptista e Carlos Mesa
Imagem: Jorge Roberto Melogno Castro, 07/2013

A internacionalização produtiva está intrinsecamente relacionada com as questões culturais de um país. Não há como instalar uma empresa num território estrangeiro sem levar em conta a soma de seus valores concebidos. Mesmo as empresas que arraigam em suas estratégias os conceitos mais unilaterais da internacionalização, com o passar do tempo percebem que precisam levar em conta os valores locais ao enfrentarem as primeiras resistências. Afinal, essas resistências resultam em perdas financeiras. Nesse aspecto, longe das ideias de benevolência, um estudo aprofundado sobre as múltiplas realidades locais representa uma estratégia a ser assimilada pelas empresas globais.

Esses aspectos compõem a pesquisa realizada por Renato Dias Baptista, professor do curso de Administração do Câmpus da Unesp de Tupã, e coordenador do projeto de pesquisa 'A internacionalização produtiva brasileira: interfaces entre a cultura organizacional e a cultura local no planejamento e desenvolvimento de recursos humanos de empresas brasileiras instaladas na Bolívia', com suporte financeiro da Fapesp, visa estudar as interferências das variáveis da cultura organizacional e local em corporações privadas de grande porte e de capital brasileiro que instalaram unidades produtivas na Bolívia.

Defronte aos pressupostos da liderança brasileira na integração e no desenvolvimento do continente, tenciona-se também investigar as características interconectivas objetivando gerar dados, informações e instrumentos sobre as interfaces da cultura no processo da internacionalização produtiva.

Para a consecução dos objetivos, dentre inúmeras atividades no cronograma da pesquisa, Baptista realizou, em julho, uma entrevista com Carlos Mesa Gisbert, ex-presidente da Bolívia. O entrevistado ocupou o cargo de presidente da Bolívia de 18 de outubro de 2003 até 9 de junho de 2005.

Vice-presidente sob o governo do então presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, Mesa assumiu o posto depois de protestos generalizados e greves que forçaram Sánchez de Lozada a renunciar e abandonar o país. Entre as suas agendas, já como Presidente, estava o Referendo sobre o setor de energia e a nova Lei de Hidrocarbonetos. Essa temática também compôs a entrevista, visto que a Petrobras está entre as empresas participantes da pesquisa.

Segundo Renato Dias Baptista, foram obtidas informações imprescindíveis para entender a dinâmica da cultura e da política boliviana relacionada à internacionalização de empresas. A importância da participação do ex-presidente boliviano na pesquisa vai além da atuação política, já que Carlos Mesa é um intelectual reconhecido, jornalista e historiador. Autor de 16 livros, recebeu, junto com Mario Espinoza, o prêmio de jornalismo Rei de Espanha. Hoje preside a Fundación Comunidad, cujo trabalho é contribuir para o fortalecimento das instituições democráticas e dos direitos humanos.

Critico contundente da situação política atual, Carlos Mesa acredita que existem antagonismos nas posições do governo de Evo Morales quando se depara entre a possibilidade de realizar grandes empreendimentos no país relacionados aos recursos naturais em áreas protegidas ao mesmo tempo em que discursa sobre a exploração das grandes empresas estrangeiras.

'O governo boliviano tem uma grande confusão e uma grande contradição sobre o que realimente quer fazer. De toda maneira, esse governo incorporou o mundo indígena, criou - ou denominou - a Bolívia como um estado plurinacional e realizou o controle estatal da economia. Esse conjunto de objetivos, em geral, foi cumprido. Mas ainda não sabe como vai encarar o futuro. Uma palavra obsessiva do governo é que a Bolívia tem que se industrializar, contudo, essa palavra não tem um relato que a acompanha. O governo não sabe em que investir, quais são as linhas de industrialização que quer investir, e qual a sua atitude em relação aos investimentos estrangeiros, e que faça possível a industrialização. Simplesmente, o governo não tem claro, não sabe quais serão as regras dessa industrialização. Não tem claro nem mesmo em que consiste um processo de industrialização. O sinais que Bolívia envia ao exterior são contraditórios, equivocadas, e a mais ruim, a de insegurança aos investidores. (...)', disse o entrevistado.

A entrevista na integra composta de outros dados de pesquisa está sendo objeto de análise e submissão à publicação.

Diante da dinâmica do tema também foram entrevistados o ex-ministro de hidrocarbonetos Guillermo Torres, um profundo conhecedor do setor petrolífero e das relações com a Petrobras/Bolívia, que compõe o estudo, Alexander Andras,  principal executivo da Votorantim na Bolívia, Fernando Tuma Gamez, presidente da COCECA e sócio da Votorantim na Bolívia, Colbert Soares, cônsul do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, Carolina Zambrana, gerente de recursos humanos da Petrobras e Marcelo Rodrigues, Gerente de comunicação da Petrobras Bolívia.

Leia também o artigo 'A cultura e a internacionalização produtiva brasileira na Bolívia', de Renato Dias Baptista
http://www.unesp.br/portal#!/debate-academico/a-cultura-e-a-internacionalizacao-produtiva-brasileira-na-bolivia/

Informações: rdbaptista@tupa.unesp.br

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