Pesquisa transforma lodo e cascas de pupunha em substrato

Composto experimental foi utilizado para produção de mudas

22/07/2013, 06:54 por: Margarete Micheletti, Jornal Regional - Vale do Ribeira

Alcivânia com as mudas de juçara produzidas com o substrato do experimento
Imagem: Divulgação

É possível produzir um substrato com qualidade para utilização na produção de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica a partir da compostagem do lodo de esgoto e de um resíduo abundante no Vale do Ribeira: as cascas da pupunha. Este é um dos resultados da pesquisa que a engenheira agrônoma e professora da Unesp de Registro, Francisca Alcivânia de Melo Silva, apresentou a representantes da Sabesp, empresa parceira na realização do estudo, iniciado em 2011 e que está sendo concluído neste semestre.

A professora comenta que existem outras pesquisas relativas ao reaproveitamento do lodo gerado durante o tratamento do esgoto - um dos principais rejeitos do sistema de tratamento de efluentes - mas nenhum estudo havia associado, no processo de compostagem, o lodo de esgoto à casca da pupunha, resíduo produzido pela agroindústria local. Estima-se que uma fábrica que beneficie 3 mil cabeças/dia de palmito gere cerca de 5 toneladas/dia de resíduos. 'O diferencial do trabalho foi testar uma aplicação viável para o Vale do Ribeira, possibilitando uma destinação final adequada a estes resíduos e gerando um produto que pode atender as demandas da região na produção de mudas', disse.

Alcivânia explica que o processo de compostagem, ao elevar a temperatura dos materiais, elimina os micro-organismos nocivos à saúde - como os coliformes fecais, por exemplo, e acaba gerando um produto final seguro. A adição das cascas de palmito pupunha - considerado um elemento estruturante na compostagem - deu a porosidade necessária para a geração do substrato.

 Foram avaliadas três misturas diferentes, com proporções diferentes de lodo de esgoto e 50%, 66% e 75% de pupunha cada. Os compostos produzidos foram testados como substrato para a produção de espécies nativas da Mata Atlântica: a Aroeira Pimenteira (Schinus terebinthifolius Raddi) e Juçara (Euterpe edulis), e também em mudas de eucalipto. Os resultados variaram de acordo com as espécies testadas, mas as três misturas apresentaram bom potencial como substrato. Os substratos produzidos também apresentaram desempenho superior ao substrato comercial testado.

A professora explica que o estudo analisou a viabilidade do processo, mas não chegou a levantar o custo de produção do substrato - possível tema para uma futura pesquisa. Ela acredita que os resultados alcançados podem atender à vocação da região, onde é crescente a demanda por produção de mudas de espécies nativas e onde o cultivo dessas mudas por pequenos viveiristas também tem crescido. 'Com o desenvolvimento de um substrato com qualidade e mais viável economicamente, seria possível potencializar essa produção', explica a professora.

Ela esclarece que a utilização do substrato em maior escala depende de uma adequação à legislação. ?Sabemos que o uso desse e de outros materiais à base de lodo de esgoto deve ser feito com todo o cuidado, pois trata-se de um material interessante do ponto de vista agrícola, mas poluente potencial se mal utilizado. Apesar do rigor da legislação vigente, somos otimistas no sentido de poder usufruir dos benefícios do material com a segurança necessária?, revela a agrônoma.

O trabalho contou com o apoio da APTA (Polo Regional do Vale do Ribeira) e teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os resíduos foram cedidos pela Sabesp e agroindústrias da região. Além de Alcivânia, a equipe conta com os professores Iraê Amaral Guerrini e Roberto Lyra Villas Boas (Unesp/Botucatu), o professor Reginaldo Barboza da Silva (Unesp/Registro), o pesquisador Erval Rafael Damatto Junior (APTA/Vale do Ribeira) e os estagiários Giovanna Margheri Nunes e Jair Augusto Zanon.

A apresentação ocorreu dia 3 de maio.

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